No século XVI, no ano de 1569, a doença da peste espalhou-se por grande parte do nosso território. Os frades arrábidos exerceram um papel muito importante no cumprimento das obras de misericórdia. O cronista frei António da Piedade refere que na cidade de Lisboa morreram mais de 30 000 pessoas.
Os frades da custódia (nesta altura assim se designava, ainda não era província) dedicavam o seu tempo, por amor a Deus e ao próximo, ao cuidado dos doentes, nas suas casas, nas enfermarias e em outros locais onde viviam.
Tinham presente o ensino de São João: Se alguém disser: “Eu amo a Deus, mas tenho ódio ao meu irmão é um mentiroso; pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê”.

Os frades arrábidos estando ao serviço dos pobres mais pobres, neste caso os doentes da lepra, estão, acima de tudo, ao serviço dos doentes por causa do Evangelho. O cronista frei António da Piedade sobre este assunto, lembra “… os frades podem ser considerados no número dos sacerdotes, diáconos e leigos, que a Igreja Católica, no martirológio Romano, celebra como mártires, no último dia do mês de Fevereiro”.
Frei Belchior Alderete, pregador, natural de Castela, onde professou, mas desejando seguir e sentir uma maior observância na temática da vivência do carisma de São Francisco abandonou a sua Província e veio para Portugal.
Entrou na custódia dos Arrábidos e foi colocado no Convento de Santa Cruz de Sintra, um dos mais austeros da recente Província da Arrábida. Ali viveu alguns anos na maior e estreita observância da regra e dos estatutos, sempre disponível, quer no atendimento às pessoas que o requisitavam, quer na assistência espiritual.
Tendo Frei Belchior sabido que a Vila de Torres Vedras estava a sofrer os horrores da lepra, da peste e da fome, de imediato, pediu ao seu superior para ir atender aqueles pobres e aflitos que viviam abandonados de toda a gente. A sua presença foi alívio para as dores daqueles doentes e com a sua dedicação evangélica muitos se curaram psicológica e fisicamente. Outros obtiveram, apenas e infelizmente, a cura espiritual. Atingido pela doença da peste, doou a sua vida pelo bem material e espiritual de todos os seus doentes.
Faleceu e foi sepultado na ermida de São João que, na altura, ficava a noroeste da Vila. O agiológio Lusitano faz memória deste servo de Deus dez anos depois da sua morte, referindo-a a 12 de Abril de 1579, ano marcado por outra peste, mas não tão mortífera. (continua) n
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