Focos de conversão ecológica

Manuela Silva (1932-2019)

Queremos deixar aqui a nossa homenagem e o nosso bem haja à nossa colaboradora Manuela Silva, fundadora e grande impulsionadora da rede Cuidar da Casa Comum.
Estava programado que seria ela a escrever este artigo, mas o Senhor, chamou-a para a sua morada, no passado dia 7 de Outubro de 2019.
Foi uma lutadora incansável, pela erradicação da pobreza, pelo cumprimento da Justiça e da Paz. Era uma mulher de Esperança empenhada numa Igreja mais fraternal e menos piramidal, mais ecológica, dando voz às mulheres e às periferias excluídas de que fala o Papa Francisco.
Louvado sejas, Senhor, pelo dom da sua vida!

O nome já diz quase tudo, inspira-se directamente na encíclica Laudato si’. Os focos de conversão ecológica nasceram no âmbito da iniciativa que criou a rede Cuidar da Casa Comum – a Igreja ao serviço da ecologia integral. Constituem a forma mais palpável de procurar, em grupo, maneiras de concretizar as mudanças necessárias para promover a ecologia integral. (Cf. artigo de Manuela Silva “Focos de conversão ecológica ao serviço de uma ecologia integral”, em https://santoantonio.live/2018/03/focos-de-conversao-ecologica-ao-servico-de-uma-ecologia-integral/.)

Os seus objectivos são, naturalmente, decalcados dos que a Rede propõe:

  • aprofundar o conhecimento da Laudato si’;
  • tomar consciência das tremendas agressões a que o Planeta tem sido sujeito, fazendo perigar a sustentabilidade da “casa comum”,
  • e promover as mudanças necessárias quer pessoais, quer das comunidades e espaços que se situem na esfera de acção do foco e dos seus membros;
  • interiorizar e assumir a conversão à ecologia integral, numa linha de espiritualidade fundamentada no Evangelho da Criação, como propõe o papa Francisco na sua encíclica.   

Os focos têm um membro que faz a ligação à coordenação da rede Cuidar da Casa Comum e, de resto, vão fazendo o seu caminho de maneira autónoma, conforme o contexto em que existem e interagem. Podem contar desde o primeiro momento com materiais de apoio que estão disponibilizados no site:

  • Textos de Apoio, antecedidos de uma carta de boas-vindas, destinam-se, como se depreende, a acompanhar os focos desde o seu início. Dão pistas que ajudam a aprofundar vários capítulos da Laudato si’ e pode, cada um deles, servir para animar um ou mais encontros. 
  • Coordenadas de Acção, um conjunto de textos breves sobre cada uma das temáticas em que se desdobra o conceito de ecologia integral.
  • Textos de apoio para focos escolares – seis guiões.
  • Plano para acção com crianças e jovens.
  • Vídeos sobre o ambiente e alterações climáticas.
  • Um meio de avaliação: ecodiagnóstico (parte 1: meio físico).

Pensados inicialmente para o âmbito das paróquias, a realidade mostrou em pouco tempo a riqueza da diversidade. Ao longo dos dois anos que tem a Rede, nasceram vários focos, dos quais se espera que consigam ter um efeito multiplicador, contagiando outros para formarem equipas que empreendam o mesmo caminho. Mas também há grupos com outros formatos e igualmente ligados à Rede. Eles assumiram o objectivo da conversão ecológica, mas constituíram-se, por exemplo, em grupos já existentes, como na Assoc. dos Amigos de Teilhard de Chardin, ou desenvolvem dinâmicas afins, adaptadas a outros contextos, caso do meio escolar, como sucede em Portalegre e em Seia. 

Nalguns grupos, as suas iniciativas de sensibilização levaram-nos a exercer uma cidadania activa que resultou em unirem esforços com instâncias de poder local, como juntas de freguesia, para fomentar medidas de correcção ou melhoramentos na vida da comunidade.

Como afirma o papa Francisco, e é a citação que remata o convite a que se constituam focos, «viver a vocação de cuidadores da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de uma existência virtuosa» (Ls 217). Disso mesmo dá testemunho uma das pessoas do foco da paróquia do Campo Grande, que mostra a fecundidade do grupo e como, sem dúvida, encontraram um filão inesgotável de descoberta e desafio, pessoal e comunitário, na proposta de conversão a uma ecologia integral. 

Neste novo paradigma a que o papa Francisco nos interpela, de uma ecologia integral, tudo está interligado, cada um de nós importa, nada nos pode ser indiferente, pelo que importa assumir humildemente este compromisso de defesa da terra pela razão óbvia de que, como também refere o Papa Francisco “a defesa da terra não tem outra finalidade senão a defesa da vida“. E “todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades“(Ls 17).

Lídia Gamboa, out.2019

(Texto na íntegra em https://casacomum.pt/wp-content/uploads/2019/10/Testemunho-LídiaGamboa-CampoGrande.pdf.)

Os focos e demais grupos são como nós da rede Cuidar da Casa Comum, que se vai tecendo e alargando. Queremos ser parte das mudanças necessárias, e agora urgentes, nos nossos estilos de vida irresponsáveis e depredadores, em resposta ao clamor da nossa Mãe Terra e dos mais pobres e frágeis, que são também os mais atingidos pelos efeitos nocivos da crise climática.   A questão da Amazónia está aí – o Sínodo encontra-se ainda reunido em trabalho à data em que redijo estas linhas – e questiona-nos de forma ímpar sobre múltiplas abordagens que fluem de ou para repensarmos como podemos tornar-nos cuidadores da criação, mais autênticos e proativos.

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