Diálogos com António 2020 – 2 fevereiro
Trazer os textos que se seguem até estas páginas foi um caminho longo. Andaram muitos meses desde os Diálogos com António, em Coimbra, no dia 2 de fevereiro, e surgem agora no Mensageiro no último número do ano. Mas o longo caminho não é apenas no tempo. É que parece que a memória desse dia vem de um mundo diferente, parece duma outra vida, como dizemos às vezes.
Mas não é. E ler os contributos que se seguem é também um modo de ter os pés na terra da nossa experiência vital, das relações de amor que nos dão sentido e são a nossa respiração fundamental. Ler estes textos recentra a nossa atenção nos afetos, na empatia, na esperança, na saudade.
A jornalista Sara Belo Luís subverte o título pensado para este Diálogo e incita-nos a olhar não para Famílias como as nossas, mas para as Famílias dos outros, calçar os seus sapatos e estar ao serviço dos mais desfavorecidos. Como poderemos não nos sentir interpelados por esta proposta?
A jornalista Ana Filipa Nunes, que foi a cuidadosa, informada e empenhada moderadora do encontro de fevereiro, lembra-nos que há hoje Famílias modernas diferentes das tradicionais, mas cuja essência é exatamente a mesma: o que une as famílias é o afeto, a necessidade imperiosa do abraço dos nossos, com que certamente todos nos identificamos, neste momento, independentemente da família a que pertencemos.
O escritor Nelson Nunes também usa o verbo estar no título do seu texto: Estamos vivos. E, no final de uma história que nem sempre foi feliz, relaciona essa condição de estar vivo com a certeza da esperança. Busquemos nesta convicção conforto para os dias sem horizonte (talvez queiram ler o romance autobiográfico, Preciosa, editado em 2019 pela Planeta).
A Ghalia Taki é mediadora cultural e intérprete e traz-nos uma parte da sua história de vida, desde a Síria até Portugal. Mostra-nos que a estrada de Damasco é o itinerário da nossa conversão individual, na procura da paz, do respeito, da felicidade, do conforto, da capacidade de sonhar. Poderia ser uma vida estranha e diferente; porém, como não nos reconhecermos nesta saudade com cheiro a jasmim? Esta história tem o cheiro de casa, lugar espiritual onde as memórias se misturam com o presente, independentemente da geografia e do nome que damos a Deus.
Que estas famílias, certamente diferentes das vossas, possam ser sentidas por todos como nossas.
Foto da capa: Diálogos com António 2020: Famílias como as nossas. Sala do Capítulo, Mosteiro de Santa Cruz, Coimbra, 2 de fevereiro de 2020. Da esquerda para a direita: Ana Filipa Nunes, Nelson Nunes, Sara Belo Luís, Ghalia Taki, Inês Espada Vieira. Foto: Correio de Coimbra.

Inês Espada Vieira nasceu em Lisboa, em 1975. Casada com o amor da sua vida, o Javier, tem três filhos: o Miguel, o Pedro e a Clara.
É docente na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (UCP).
É paroquiana de São Tomás de Aquino, em Lisboa, levando por diante com muito carinho o Clube de Leitura (podem espreitar aqui: http://clube-de-leitura-sta.webnode.pt/).
É vice-presidente do CRC – Centro de Reflexão Cristã e membro da comissão executiva da PAR – Plaforma de Apoio aos Refugiados. É colaboradora dedicada da revista Mensageiro de Santo António.
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