Maria Clara Bingemer é teóloga e professora universitária na Universidade Católica do Rio de Janeiro. A sua reflexão – expressa de modo particular nesta obra – incide sobre a qualidade da presença cristã numa sociedade plural, na qual o quadro institucional do Cristianismo dá lugar ao desafio de uma experiência minoritária. É aqui que a tradição mística cristã – em especial a tradição do século XX, que a autora releva – constitui um contributo vital para esta vivência. Como refere Bingemer, “A história contemporânea da mística cristã é narrada sobretudo através dos relatos dos seus protagonistas. Procuraremos demonstrar que os místicos do século XX foram pessoas perfeitamente ativas, comprometidas e responsáveis pelas questões do seu tempo. E se ao longo da história do Cristianismo encontramos grandes figuras místicas que são religiosos e monges contemplativos, é possível encontrar igualmente, à margem do “calendário” da Igreja e dos seus processos de canonização, homens e mulheres que viveram a união com Deus e o compromisso com o mundo de forma extraordinariamente integrada e luminosa”.
A obra procura realçar as caraterísticas de uma experiência espiritual narrada pelas suas testemunhas. Nas suas biografias, as místicas e os místicos cristãos procuraram a unificação entre os espaços de silêncio e o compromisso social, o anúncio explícito e a ausência de palavras para exprimir o mistério, a pertença eclesial e a liberdade profética. Nesta obra – que conclui com uma breve apresentação de três figuras contemporâneas, Dorothy Day, Etty Hillesum e Egide van Broeckhoven –, o leitor encontrará um percurso bem explanado, numa linguagem acessível e de leitura agradável, sobre as pistas e dimensões de uma experiência cristã, mística e espiritual em que todos somos convidados a viver e mergulhar.