Na sua Mensagem deste ano, Francisco inspira-se na palavra do salmista. Este pobre clama e o Senhor o escuta (Sal 34, 7). E acrescenta:
Façamos também nossas estas palavras do Salmista, quando nos vemos confrontados com as mais variadas condições de sofrimento e marginalização em que vivem tantos irmãos e irmãs, que nos habituamos a designar com o termo genérico de “pobres”.
Recomendo a leitura na íntegra da Mensagem do papa Francisco, pois este magnífico texto condensa a extensa e profunda literatura bíblica acerca da relação de Deus com os pobres e é, por isso, o espelho daquilo que deve ser a relação dos crentes com os mais frágeis e marginalizados.
Como lembra o papa Francisco:
Hoje, este Salmo permite-nos também a nós, rodeados por tantas formas de pobreza, compreender quem são os verdadeiros pobres para os quais somos chamados a dirigir o olhar a fim de escutar o seu clamor e reconhecer as suas necessidades.
Na mensagem de Francisco há três verbos que exprimem a relação do pobre com Deus. São palavras-chave que também nós devemos ter em conta na nossa relação com os pobres: escutar, responder, libertar.
Em primeiro lugar há que saber escutar o clamor dos pobres, o que implica prestar atenção às necessidades e aspirações dos membros mais frágeis da sociedade e por esta marginalizados e excluídos, por razões de carência económica e não só. Também por doença ou deficiência física ou mental, por etnia e preconceito social, por solidão e défice de afecto ou de sentido de pertença, etc.
A situação de pobreza nos seus distintos rostos deveria ser um clamor, uma voz inquietante e interpeladora da nossa consciência individual e colectiva. Não raro, porém, é uma voz sumida e longínqua que mal se faz ouvir, uma presença relegada para as periferias. Em vez de escuta atenta, erguemos muros que afastam os pobres do radar dos nossos sentidos, da nossa convivência, dos nossos quotidianos. E eu pergunto: As nossas comunidades eclesiais serão excepção?
O Papa Francisco, neste Dia Mundial dos Pobres lança um apelo a uma escuta atenta aos pobres.
(…) como é possível que este brado, que sobe à presença de Deus, não consiga chegar aos nossos ouvidos e nos deixe indiferentes e impassíveis? Num Dia como este, somos chamados a fazer um sério exame de consciência para compreender se somos verdadeiramente capazes de escutar os pobres.
O segundo verbo é responder. Não basta tomar conhecimento das situações de pobreza. Como diz o salmista, o Senhor não só escuta o clamor do pobre, mas também responde.
Responder é ir ao encontro da situação concreta, para aliviar ou curar as feridas, repor a justiça e agir sobre as causas da marginalização e da exclusão, ajudar a que o pobre readquira condições para uma vida com dignidade e inclusão social.
O terceiro verbo é libertar. Nesta mensagem de 2018, Francisco lembra que a pobreza não é procurada, mas criada pelo egoísmo, a soberba, a avidez e a injustiça (…).
E acrescenta:
A salvação de Deus toma a forma duma mão estendida ao pobre, que oferece acolhimento, protege e permite sentir a amizade de que ele necessita. É a partir desta proximidade concreta e palpável que tem início um genuíno percurso de libertação.
Com frequência, infelizmente, verifica-se o contrário: as vozes que se ouvem são de repreensão e convite a estar calados e a sofrer. São vozes desafinadas, muitas vezes regidas por uma fobia para com os pobres, considerados como pessoas não apenas indigentes, mas também portadoras de insegurança, instabilidade, extravio dos costumes da vida diária e, consequentemente, pessoas que devem ser repelidas e mantidas ao longe.
Concluo com mais umas palavras do Papa Francisco a propósito deste dia 19 de Novembro mundialmente consagrado aos pobres.
O Dia Mundial dos Pobres pretende ser uma pequena resposta, dirigida pela Igreja inteira dispersa por todo o mundo, aos pobres de todo o género e de todo o lugar a fim de não pensarem que o seu clamor caíra em saco roto. Provavelmente, é como uma gota de água no deserto da pobreza; e, contudo, pode ser um sinal de solidariedade para quantos passam necessidade a fim de sentirem a presença ativa dum irmão ou duma irmã.
(…)
Neste Dia Mundial, somos convidados a tornar concretas as palavras do Salmo: “Os pobres comerão e serão saciados” (Sal 22, 27).