Estão aqui mesmo ao lado, os rapazes do CE(u)O

Tantas vezes olhamos para eles do muro da Igreja de Santo António dos Olivais e tantas vezes nos questionamos sobre quem são, de onde vêm, porque estão ali, fechados, a maior parte das vezes longe do olhar de cada um que está do lado de fora da rede com arame farpado…

Pediram-me, porque sou um privilegiado, para falar sobre estes jovens, rapazes entre os 12 e os 20 anos, com quem trabalho, diariamente, há 27 anos.

Estes rapazes estão no Centro Educativo dos Olivais porque cometeram um (ou mais) crimes passíveis de pena de prisão, caso fossem maiores de idade (em Portugal essa idade são os 16 anos). Assim, por ordem do Tribunal de Família e Menores, são colocados em casas como esta para que, durante o tempo estipulado pelo tribunal (o máximo são 3 anos…) possam ser educados ou reeducados para o direito, ou seja, aprendam a viver em sociedade.

São vários os crimes que cometeram, desde o furto ao homicídio e são várias as razões pelas quais cometem estes crimes, sendo que a principal é a desestrutura familiar onde crescem ou a completa falta da família, desde tenra idade.

A maioria, quando chega, vem sem regras, algumas delas básicas, como seja a higiene pessoal e, logo desde o início, começamos a lidar com essa falta de hábitos.

Posso dizer que a grande maioria, quando termina a sua Medida Tutelar Educativa, sai com normas e regras bem aprendidas e com uma possibilidade de mudar de vida, mas a isso já lá vamos…

Cada jovem é um jovem e por isso, cada um tem um Projeto Individual Educativo, que, em conjunto com o seu Técnico Tutor, o jovem se propõe cumprir durante o tempo da sua medida. É aqui que eu entro em ação!

A minha função é a supervisão do jovem, num conjunto de, no máximo, 12 jovens durante as 24 horas do dia, ajudando-o a cumprir os objetivos a que se propôs. Tal e qual como fazem ou fizeram os nossos pais, durante a nossa educação.

Os seus dias são passados na escola (desde o 2º ciclo até ao secundário), na formação profissional (jardinagem, empregado de mesa e bar e manutenção de madeiras e mobiliário) e em tempos livres, sejam eles programados ou livres, como ver TV à noite antes de recolherem aos seus quartos. Têm horários rígidos que são obrigados a cumprir, bem como a frequência de todas as atividades que são propostas pelo Centro Educativo.

No fim das suas Medidas Tutelares, estes rapazes voltam para o meio de onde vieram e esta é uma das falhas do sistema: a falta de apoio continuado para que possam, realmente, mudar de vida.
Foto Rene Bohmer | Unsplash

Infelizmente, no fim das suas Medidas Tutelares, estes rapazes voltam para o meio de onde vieram, para o mesmo bairro, para o mesmo grupo de amigos (gang ou firma, como eles lhes chamam…) e esta é uma das falhas do sistema: a falta de apoio continuado a estes jovens para que possam, realmente, mudar de vida.

Especialmente nestas situações, é necessário a sociedade voltar a dar a máxima importância à família estruturada, criando apoios para que estes jovens não tenham que pensar em transgredir. Famílias que lhes dêem amor, mais que dinheiro ou entretenimento, famílias que se preocupem com os jovens de forma a estarem por dentro daquilo que eles fazem no seu dia a dia, com quem se relacionam…

Sim, este é um trabalho muito difícil, mas muito desafiante. Há muito a mudar, há muito a fazer, mas muito é feito por estes jovens que, quando terminam o seu tempo de clausura, levam com eles saudades dos agentes Educativos com quem se relacionaram, saudades do Centro Educativo e com uma certeza: não querem lá voltar!

Foto da Capa: Centro Educativo dos Olivais. Foto MSA 2023.

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