Uma “periferia” do mundo, a Amazónia, uma terra distante, pouco conhecida, torna-se um assunto eclesial que celebrará o seu sínodo no coração da igreja católica em Roma, em outubro próximo. Esta “igreja irmã” das outras que compõem a unidade católica, questiona-se sobre a sua vida como comunidade de crentes em Cristo, sobre o seu papel no mundo e sobre o que se passa na história do planeta Terra.
É por isso que o título do sínodo é Amazónia: novos caminhos para a igreja e para uma ecologia integral. Este Sínodo olhará para a Igreja da Amazónia como um assunto paradigmático que, ouvindo o que o Espírito Santo inspira e pede, lançará luz sobre a vida e o futuro das outras igrejas, especialmente no Ocidente. Vamos refletir sobre a Amazónia, mas o que será dito terá um alcance universal e promoverá essa troca de dons que faz da igreja do Senhor Jesus Cristo, a “fraternidade” − como o apóstolo Pedro a chama (1Pd 2, 17; 5,9) − presente entre os povos da terra.
O Instrumentum laboris apresenta propostas corajosas, avançadas com audácia, paixão e convicção: “A diversidade cultural não ameaça a unidade da Igreja, mas exprime a sua autêntica catolicidade mostrando a beleza do seu rosto multifacetado” (n. 124). Só assim a igreja de uma região, de uma cultura, se torna assunto para toda a igreja. A mudança no paradigma missionário é radical. Trata-se, de facto, de ir às nações anunciando o Evangelho de sempre, mas com a atitude dos que proclamam: “Está entre vós quem não conheceis” (Jo 1, 26), olhando para os sinais dos lugares e dos tempos, na procura das “sementes da Palavra” presentes nas culturas e tradições daqueles a quem o Evangelho é dirigido, sem imposições ou pretensões de posse única da verdade, mas numa atitude de verdadeira escuta do outro.
Adaptado de Vita Pastorale – Rubrica “Dove va la chiesa” – Agosto de 2019, Enzo Bianchi
Considero esta expressão uma contradição à Mensagem de Jesus Cristo: «sem pretensões de posse única da verdade». Lembro apenas duas frases de Jesus, o Filho de Deus: “Ide levar a Boa Nova (o Evangelho) até aos confins do mundo”(Mt 29, 18-20, etc); e não deixou de dizer também: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6, etc). Jesus é a Verdade e a Sua Verdade só pode ser única. Por isso, devemos levá-La até todas as periferias do mundo para que todos A possam seguir. Devemos transmiti-La, num espírito de fraternidade, para que aqueles que A não conhecem possa segui-La e Salvar-se. Mas terão sempre a liberdade de não A seguir.