Entrevista com o Padre Filipe Diniz

Inês Santos e Gonçalo Oliveira

O Padre Filipe Diniz é um jovem de 40 anos, que exerce a sua vocação na Diocese de Coimbra, há 14 anos. É vigário paroquial nas paróquias de Cernache, Assafarge, Antanhol e Almalaguês, assistente espiritual do movimento dos Convívios Fraternos em Coimbra e responsável pela pastoral juvenil no Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil. Em 2017, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) lança-lhe o desafio para acompanhar a Pastoral Juvenil Nacional, através do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil (DNPJ), onde exerce funções até ao momento. Neste momento, com a JMJ aí à porta, tem acompanhado os símbolos da JMJ na sua peregrinação pelas várias dioceses de Portugal.

Padre Diniz, o que o traz até à Jornada?

Primeiro, o facto de ter vivido outras jornadas mundiais da juventude. A de Madrid, em 2011, como responsável da pastoral juvenil da diocese de Coimbra, foi muito desafiante. Nunca tinha sentido um tão grande número de pessoas focadas no essencial, na mensagem de Jesus Cristo e perceber como isso transforma os corações de tantos jovens. Depois, em 2016, tive a oportunidade de viver a JMJ em Cracóvia, dando continuidade àquilo que foi a experiência de 2011, também numa perspetiva de coordenação.
Depois, em 2019, tive a grande graça de participar e viver a experiência da JMJ fora da Europa, no Panamá, já com a responsabilidade do DNPJ, onde a grande maioria das dioceses esteve presente. A experiência de termos saído da nossa Europa para uma outra realidade, a da América Central, onde não houve um tão grande número de peregrinos, mas que foi uma experiência marcante, muito próxima de um povo que se preparou dignamente para acolher os jovens do mundo e onde recebemos a grande notícia de que a próxima edição da JMJ iria realizar-se em Lisboa.

Porque é que o Padre Diniz aceitou este desafio?

A peregrinação dos símbolos da JMJ e os Dias Na Diocese (DND) são da responsabilidade da Conferência Episcopal do país que acolhe a JMJ. Nesse sentido, a CEP lançou-me o desafio de escolher uma equipa para preparar estas duas iniciativas. A peregrinação dos símbolos pretende divulgar, promover e mostrar aquilo que são as riquezas do nosso país e como é que os nossos jovens estão a preparar a JMJ. Depois os DND, na gíria pré-jornada, mas eu gostava de focar que são dias vividos nas dioceses de acolhimento antes da jornada em que os jovens dos diferentes países querem conhecer as realidades do país, desde a dimensão cultural e religiosa, até à gastronomia, entre outras coisas.
Ao aceitar este desafio, para mim, foi uma grande alegria, um voto de confiança, sabendo perfeitamente que tinha de estar com o coração aberto. Porque a JMJ, pelo facto de ser um grande evento, é um marco na história do país, do mundo e acredito verdadeiramente que, com a minha fragilidade e com os meus dons, não estou sozinho porque, na preparação destes dois eventos, precisamos de fazer equipas.
A preparação destes momentos é para ser vivida em comunhão com as várias dioceses. Claro que a JMJ, a preparação do grande evento, diz respeito às equipas que estão focadas nesse objetivo dentro do Comité Organizador Local, a que nós chamamos o COL.

Estamos a um ano da JMJ. Qual é o sentimento geral das populações que recebem os símbolos?

O sentimento prevalente, quando tenho a oportunidade de passar por estes vários pontos do país, é o de querer tornar próxima a JMJ. Os símbolos têm muito estas características: envolvem as pessoas e focam-nas para este grande momento. É um sentimento de ternura e proximidade. A cruz que foi confiada aos jovens por São João Paulo II, em 1984, e que, a partir de 1986, começa a peregrinar pelo mundo. O ícone de Nossa Senhora que o Papa, em 2000, confia aos jovens é uma forma de Nossa Senhora também caminhar com a cruz da JMJ. Esta proximidade é um voto de confiança de que estamos juntos a fazer este caminho. Como o próprio tema “Levanta-te”, não para corrermos desalmadamente, mas apressadamente, porque confiamos e acreditamos que podemos chegar perto dos que nos estão mais próximos.

Conte-nos uma história engraçada das viagens.

São tantas. É engraçado perceber que às vezes a graça de Deus acontece no meio de tantos desafios por onde estes símbolos passam. Claro que me lembro de momentos engraçados desde a perspetiva da logística, do transporte dos símbolos para chegar a alguns locais e contextos. Os símbolos já viajaram de avião, de carro (na carrinha da JMJ), já viajaram de barco, enfim. Já passaram por tantos contextos que isto é, sem dúvida, o mais marcante, a forma como estes dois símbolos passaram por tantas vias. São tantas que é difícil elencar. Mas vejo o primeiro momento, quando iniciámos a peregrinação rumo a Angola, como marcante. Recordo-me de estar a olhar pela janela do aeroporto para o avião, na incerteza de os símbolos poderem ou não embarcar, a tentar perceber se iam ou não naqueles vagões que entram dentro do avião. No último vagão de todos, lá estavam os símbolos. Fiquei tranquilo porque viajava naquele avião. Para mim, foi um marco histórico da peregrinação. Foi o início propriamente dito da peregrinação.

Conte-nos um momento em que tenha sentido um grande entusiasmo da população.

Eu tenho sentido que, por onde tenho passado e daquilo que os coordenadores ou responsáveis das dioceses me têm dito, tem havido muito acompanhamento e vida ao receber estes símbolos e, por isso, os momentos são todos eles marcantes, uns de uma maneira outros doutra.

Se os símbolos tivessem uma credencial de peregrino, quantos carimbos já teriam?
Muitos! Não sei dizer números. O que importa é que pelos diversos locais em que já passaram, têm deixado uma marca de referência e sentido.
Claro que são dezenas e dezenas de localidades, mas o que importa são os momentos marcantes que os símbolos tiveram nessas mesmas localidades com os jovens, as crianças, os idosos. Isso é que faz sentido.

Qual acha que vai ser a maior dificuldade e em que é que acha que vamos ser muito bons? Que toque português é que vai ser dado a estas jornadas?

As dificuldades são normais. Sinto que nós portugueses com grande facilidade agilizamos a situação, preocupamo-nos e encontramos a solução.
Nós nunca preparámos uma JMJ. Aquilo que eu vou escutando são ecos de outras jornadas. O que é muitas vezes frisado é que haja um coração aberto, colocando tudo nas mãos de Deus. Esta iniciativa não é nossa, mas sim d’Ele. Com Ele, fazemos história e fazemos com que a JMJ aconteça.
Mesmo nesta fase que estamos a viver, num contexto de guerra e de pandemia que baralhou aqui um bocadinho a situação, depois da tempestade virá sempre a bonança. Temos que nos adaptar, enriquecer, apoiar para vivermos este momento como graça, confiando nas mãos de Deus todo este trabalho. Acreditamos que a bonança é o que Ele nos vai dar de forma gratuita. Por isso, acredito que o toque português, à bom português, é que achamos sempre uma solução.

Padre Filipe Diniz e bispo de Coimbra D. Virgílio Antunes
Padre Filipe Diniz e bispo de Coimbra D. Virgílio Antunes
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