Entrevista com Ana Rita Cruz Santos

Ana Rita Cruz Santos frequenta o 3º ano da Licenciatura em Ciências Religiosas na Faculdade de Teologia (Lisboa), da Universidade Católica Portuguesa e é Presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Teologia (Lisboa) (AEFTL), pelo 2º ano consecutivo.

Como interpretas a visão que a Igreja tem hoje sobre a mulher e a sua participação na vida da Igreja?

Após o Vaticano II tem-se vindo a afirmar a igualdade fundamental de todos os crentes, nomeadamente de homens e mulheres, na diversidade de dons, serviços e ministérios. Percebemos na Lumen Gentium que a santidade é vocação universal, à qual todos são chamados. Com isto, reconhecemos facilmente que o lugar da mulher é, em primeira instância, também o lugar do homem, pelo que esta deve ser igualmente respeitada. Também a ela deve ser feita sentir a igualdade no todo da Igreja, uma vez que sempre assim sucedeu aos olhos de Deus – “não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher” (Gl 3, 28). Desse modo, considero que questões como a exclusividade do ministério ordenado em nada diminuem o papel da mulher na Igreja, que se concretiza de muitas outras formas igualmente necessárias.

Como deve a mulher vivenciar as diversas dimensões eclesiais?

Ana Rita Cruz Santos, Presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Teologia (Lisboa) (AEFTL), pelo 2º ano consecutivo.
Ana Rita Cruz Santos, Presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Teologia (Lisboa) (AEFTL), pelo 2º ano consecutivo.

A mulher deve viver na lógica da comunhão, nas diversas dimensões e níveis da Igreja: anunciar e testemunhar o Evangelho pela Palavra e pela vida, através da vivência pastoral; celebrar a fé através da participação dos sacramentos; e ainda praticar a caridade, na expressão do amor e do serviço, contribuindo para a construção da comunidade eclesial.
Por exemplo, nas cartas de São Paulo vemos que as mulheres têm um papel de destaque na Igreja, estando sempre presentes. Porém, esse papel não é definido, pelo que não sabemos exatamente no que consistia.
Creio que, na História da Igreja, o papel das mulheres tem vindo a acompanhar os sinais dos tempos e penso que continuará a suceder assim. Todavia, é inquestionável o contributo de algumas mulheres para a Igreja dos seus séculos e a Igreja atual, como é o caso de Teresa de Ávila, Teresa de Calcutá ou Edith Stein. Não nos devemos esquecer que a Igreja não é fruto do dia de hoje, mas tem sido um processo retomado a cada dia, desde o acontecimento Jesus de Nazaré.

Que ações deverão ser levadas a cabo para que as mulheres assumam um papel mais ativo na Igreja?

Há pouco tempo alguém partilhou comigo que, na história da Igreja, houve um dia e apenas um dia em que a Igreja, ainda nascente, foi sustentada pela fé de uma mulher: Maria, a Mãe de Jesus.
No Sábado Santo, após a experiência louca e gritante da Cruz, todos os que com Jesus tinham convivido encontravam-se tristes, decepcionados e sem visão para um amanhã. Porém, a mulher que se manteve firme junto à Cruz foi a mesma que, nesse Sábado realmente Santo, manteve viva a esperança da Ressurreição!
Desse modo, e à semelhança de Maria, a mulher deve acompanhar atentamente a Igreja, sustentando-a maternalmente, com o coração, através da oração.
Esta vocação maternal, humanizadora e transmissora de vida, convida e impele a mulher a revelar aos Homens as grandezas da caridade, qualquer que seja o projeto de Deus para si: no matrimónio, na família, na vida religiosa ou consagrada e na vivência com os irmãos.
Porém, em qualquer momento e circunstância, a mulher tem de ousar esvaziar-se de si mesma e, naquele ato que lhe é tão próprio, dar à vida a Luz e o Amor de Cristo.

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