Recordo a surpresa que experimentei quando alguém me disse que o conhecido ditado: “Enquanto há vida, há esperança”, não estava correto. Porém, depois da explicação, fiquei de tal maneira convencido da observação que, quando alguém refere o ditado, apresso-me a corrigir: “Enquanto há esperança, há vida”!
A razão é simples: uma vida sem esperança não é vida, pois falta-lhe o “sonho”, o entusiasmo, a novidade, o estímulo para ir mais além; quer dizer, sem esperança, a vida morre! Pelo contrário, quando há esperança é como se uma luz iluminasse o caminho da vida, dando-lhe cor, sentido, beleza.
Quando, no mês passado, o Papa Francisco visitou o Iraque, deu-nos uma grande lição de esperança. Ele próprio afirmou que a sua viagem tinha o objetivo de animar a esperança dos cristãos daquela terra martirizada, para eles serem testemunhas de perdão, de misericórdia e de fraternidade, na terra que deu origem ao pai na fé das três grandes religiões monoteístas: hebraica, cristã e muçulmana: Abraão.
Na planície de Ur dos Caldeus, o Papa afirmou: “Deus é misericordioso, por isso, a ofensa mais blasfema é profanar o seu nome odiando o irmão. Hostilidade, extremismo e violência não nascem dum ânimo religioso: são traições à religião”.
E, em Mosul, antes de rezar pelas vítimas da guerra, o Papa Francisco afirmou: “Se Deus é o Deus da vida – e de facto o é –, não nos é lícito matar os irmãos em seu nome. Se Deus é o Deus da paz – e de facto o é –, não nos é lícito fazer guerra em seu nome. Se Deus é o Deus do amor – e de facto o é –, não nos é lícito odiar os irmãos”.
No fim da visita, na homilia da Missa celebrada em Erbil, o Santo Padre sentiu o dever de agradecer à Igreja do Iraque, porque “continua a espalhar a misericórdia e o perdão de Cristo especialmente junto dos mais necessitados…”. Por isso, “vim em peregrinação junto de vós, para vos agradecer e confirmar na fé e no testemunho. Hoje, posso ver e tocar com a mão que a Igreja no Iraque está viva, que Cristo vive e age neste seu povo santo e fiel”.
Podemos mesmo afirmar que a visita do Papa ao Iraque foi uma antecipação da festa da Páscoa. Com efeito, se Páscoa significa passagem da escravidão para a terra da liberdade, caminhada da morte para a vida, então a presença dos cristãos no Iraque é um sinal luminoso da fé no Ressuscitado, que continua a gerar vida e vidas novas.
É um exemplo, também, para nós, cristãos do ocidente que, face à situação atual da pandemia, corremos o risco de nos fecharmos em nós próprios, nos nossos medos e na nossa autossuficiência, perdendo de vista a “sabedoria da cruz”, ou seja, o percurso que Deus em Cristo nos indicou para chegarmos à vida verdadeira: “Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só, mas, se morrer, dará muito fruto” (Jo 12, 24).
Santa Páscoa, na alegria da Vida renovada!