O papa Francisco no seu itinerário de renovação e conversão da Igreja ao Evangelho não podia deixar de ter como experiência profunda os caminhos do ecumenismo. Entra num processo com avanços e recuos ao longo da história e vai dar-lhe nova força e atualidade.
Todos temos consciência que a Igreja de Jesus Cristo não pode ser um arquipélago de ilhas isoladas, mas tem que crescer como povo que tem a marca do Espírito recebido no batismo.
Por isso mesmo, a visão sinodal da igreja não pode confinar-se a uma experiência singular, mas deve estar animada do que chamamos caminho sinodal.
Vamos ater-nos a algumas intervenções do papa Francisco onde encontramos elementos significativos de novos caminhos para o ecumenismo.
O ecumenismo ecológico
Com a publicação da Laudato Si’, o papa Francisco abre impensáveis caminho de ecumenismo convidando todos a trabalhar em comum para salvar a “nossa irmã, a mãe terra”. É uma convocatória geral sem definição de credos, nem de culturas.
Coloca a criação como desafio para todos os homens de boa vontade para que a salvem dos predadores que querem só para si a terra que é de todos e não têm consciência de que a dispensa ficará, assim, vazia para as gerações vindouras.
Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do Planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos e a suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós.
LS 14
A Eucaristia com horizonte
Mais do que todas as palavras, o gesto do Papa de ir à Suécia por ocasião dos 500 anos da Reforma é, só por si, uma proclamação dos impensáveis itinerários ecuménicos que foram abertos.
Se há um ponto sensível na relação entre a Igreja católica e as Igrejas reformadas é exatamente a Eucaristia. As palavras do Papa na Homilia da celebração são um desafio incontornável no que se refere à inter-comunhão.
Não podemos resignar-nos com a divisão e o distanciamento que a separação gerou entre nós. Temos a possibilidade de reparar um momento crucial da nossa história, superando controvérsias e mal-entendidos que impediram frequentemente de nos compreendermos uns aos outros.
Genebra, 21 de junho de 2018, por ocasião do 70º aniversário da fundação do Conselho Mundial das Igrejas
Muitos membros das nossas comunidades anseiam por receber a Eucaristia a uma única Mesa como expressão concreta da unidade plena. Temos experiência da dor de quantos partilham toda a sua vida, mas não podem partilhar a presença redentora de Deus na Mesa Eucarística. Reconhecemos a nossa responsabilidade pastoral comum de dar resposta à sede e fome espirituais que o nosso povo tem de ser um só em Cristo. Desejamos ardentemente que esta ferida no Corpo de Cristo seja curada. Este é o objetivo dos nossos esforços ecuménicos, que desejamos levar por diante inclusive renovando o nosso empenho no diálogo teológico.
Caminhar juntos
Nessa mesma assembleia o Papa Francisco salienta o caminho percorrido pelas diferentes Igrejas, sublinha as dificuldades do ecumenismo e avança com um convite simples.
Não tenhamos medo de trabalhar com prejuízo! O ecumenismo é «um grande empreendimento com prejuízo». […] Perguntemo-nos então: que podemos fazer juntos? Se um serviço é possível, por que não projetá-lo e realizá-lo conjuntamente, começando a experimentar uma fraternidade mais intensa no exercício da caridade concreta?
Genebra, 21 de junho de 2018
Horizontes novos: O ecumenismo para lá da fronteira das igrejas

Na ida a Marrocos o Papa teve a oportunidade de alargar o âmbito ecuménico para lá das igrejas cristãs no diálogo com o Islão. Este é um horizonte que se vai abrindo com novas possibilidades: O encontro-diálogo entre as diferentes tradições religiosas.
É indispensável contrapor ao fanatismo e ao fundamentalismo a solidariedade de todos os crentes, tendo como preciosas referências das nossas ações os valores que nos são comuns.[…] Acreditamos que Deus criou os seres humanos iguais em direitos, deveres e dignidade, e chamou-os a viverem como irmãos e a espalharem os valores do bem, da caridade e da paz.
Rabat, 30 de março de 2019
Os três ecumenismos
Na Viagem à Macedónia, o Papa Francisco deixa clara uma visão abrangente do ecumenismo:
Quantos cristãos, neste país, sofreram tribulações pelo nome de Jesus, especialmente durante a perseguição do século passado! O ecumenismo do sangue!
Sófia, 5 de maio de 2019
Entretanto somos chamados a caminhar e agir juntos para dar testemunho do Senhor, em particular servindo aos irmãos mais pobres e esquecidos em quem Ele está presente. O ecumenismo do pobre.
E, quando já se pressentiam os sinais premonitórios das dolorosas divisões que ocorreriam nos séculos seguintes, escolheram a perspetiva da comunhão. Missão e comunhão: duas palavras sempre presentes na vida dos dois Santos e que podem iluminar o nosso caminho para crescermos em fraternidade. O ecumenismo da missão.
You must be logged in to post a comment.