Ana Filipa Nunes
Família. Uma palavra que usamos tantas vezes para descrever os nossos, os mais queridos.
Nesta época de pandemia o papel da família foi reforçado, mas também colocado à prova. Ora por causa dos distanciamentos obrigatórios, ora pela impossibilidade de viajar. Foi criado um controlo e até uma retração dos nossos afetos imediatos. A tendência é para continuar. Por isso mesmo, faz cada vez mais sentido, abordar a temática das famílias, das Famílias como as nossas.
Se acrescentarmos o desafio lançado pelo Mensageiro de Santo António, a relevância aumenta. Porquê?
Santo António, o Santo mais venerado em todo o mundo, sempre esteve atento aos problemas das famílias, e ajudou muitas com as suas palavras e os seus milagres. Ficou conhecido por casamenteiro, facilitador da fertilidade, zelador e amigo das crianças e protetor das casas e dos objetos perdidos. Atributos que associamos imediatamente à família. Pelo menos à família no contexto mais tradicional.

Neste modelo, o homem e a mulher casam, preferencialmente pela igreja, têm filhos e vivem felizes para sempre. Ou assim se espera. Mas o que temos assistido, em particular neste início do século XXI, é o contrário. Casam menos, têm cada vez menos filhos, ou mesmo nenhuns, e divorciam-se cada vez mais.
O que leva a uma alteração deste conceito de família para um outro, mais ajustado, das Famílias como as nossas. Aqui há vários modelos: os que casam; os que optam por ficar sozinhos; os que não casam por opção mas vivem com alguém; os que se divorciam; e os que voltam a casar.
Podemos ainda acrescentar os casamentos e as adoções entre casais homossexuais e as barrigas de aluguer. Temáticas que provocam polémica mas que retratam as mudanças de uma sociedade aberta enquadrada por um mundo global.
A responsabilidade destas alterações é muitas vezes associada às mulheres. Por quererem a emancipação, por trabalharem, por estudarem nos mais diferentes graus universitários. Mulheres que foram em busca da igualdade, liberdade, independência e de sonhos.
Eu sou uma delas. Tenho 38 anos, até ao momento não tenho filhos, vivo com o meu namorado e por opção não casámos. E este não é o meu primeiro relacionamento. Pensei que no século XXI estas minhas opções fossem aceitáveis. Mas a pressão social continua a existir. Muitas vezes oiço, de homens e mulheres, que vivo para o trabalho. Perguntam-me se tenho vida própria. Afirmam que me vou arrepender se não tiver filhos e que tenho muito pouco tempo para o fazer.
Curiosamente são raras as pessoas que me questionam se sou feliz e realizada. A minha resposta não podia ser mais positiva. E não invalida que de um dia para o outro decida ter filhos ou casar.
Sei que não estou sozinha neste caminho. De uma família diferente da tradicional. No entanto, continuo a valorizar as raízes, o amor, a gratidão, a amizade, a reconciliação na saúde e na doença, no entusiasmo e no desânimo.
Por isso mesmo, nesta altura do Natal, de um ano particularmente difícil por causa do Covid-19, decidi destacar estas diferenças dos tempos modernos. Onde a família é uma das palavras de ordem.
Porque se há alguma coisa
que a pandemia nos mostrou
é que precisamos uns dos outros.
Precisamos de abraços, de afetos e de pessoas.
Se possível, dos nossos.
Da nossa família.
E por eles pedimos
todos os milagres
a Santo António.

Ana Filipa Nunes deixou Portugal com apenas 17 anos para se mudar para os Estados Unidos. Licenciou-se em Comunicação Social e Cultural, na Universidade Católica de Lisboa.
Foi jornalista na TVI durante 14 anos e atualmente é jornalista na SIC, no Programa Casa Feliz.
O fascínio pelo jornalismo surgiu com apenas seis anos através das histórias contadas pelo pai. Entre países, Ana Filipa Nunes aprendeu o poder da comunicação e de como é importante conhecer outras culturas para compreender o mundo.
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