Utilizar o desenho e a pintura como meios ou caminhos de expressão pessoal e de registo diarístico, além da escrita, representa um desafio pouco comum, e menos ainda num âmbito de vivência cristã. A abertura desse espaço pessoal, dessa busca de expressão, para uma comunidade de leitores, representa algo ainda menos comum. É o risco a que se entrega o jesuíta português Nuno Branco com a publicação deste Diário Gráfico.
Partindo do relato da Visitação (Lucas 1, 39-45), Nuno Branco propõe um itinerário em quatro etapas, que se convertem em quatro lugares de uma relação: a montanha, a cidade, a casa e o ventre. Um caminho de estreitamento, no qual a vida diária é discernida como um mistério habitado por Deus. Acontecimentos como a orientação de um retiro, viagens, encontros e diálogos com pessoas concretas e meditações bíblicas aventuram-se através da escrita e do desenho na fecundidade de uma página em branco. O autor confia-se ao exercício da escrita diarística como uma abertura ao que a realidade proporciona, reconhecendo aí, em discernimento, a presença do Mistério. Para o leitor fica o convite, na leitura deste Diário, a lançar-se num fecundo itinerário espiritual.
É conveniente agarrar o Mistério meditado? Não se esconderia este Mistério, definitivamente, quando Se apercebesse que O queremos destapar pelo desenho? Dito de forma direta, serão as minhas mãos capazes de acompanhar, de dar forma e corpo ao espanto e à admiração do que se contempla? E fico neste impasse. Por vezes. O gozo, a alegria, a satisfação e o contentamento de um desejo de desenhar como respiro para a alma e a liberdade para o espírito, ao mesmo tempo os limites do desenho e a trepidez do traço atraiçoam-me.
DIÁRIO GRÁFICO
Autor: Nuno Branco, sj
Edição: Frente e Verso
Páginas: 232