Quando Jesus nasceu, o primeiro anúncio dado aos homens foi a paz. Quando Jesus ressuscitou, ao aparecer aos discípulos, cumprimentava-os desejando a paz. Quer dizer, o Filho de Deus bem sabe que a paz é o bem maior, que só Deus nos pode dar e que não é como a paz que o mundo dá!
Muitas vezes, pensamos na paz como ausência de conflitos, de guerras ou como o bem-estar económico e mental que raramente a vida nos oferece. Esforçamos por rezar pela paz, mas, ao constatar que ela não chega como nós a imaginamos, desistimos e caímos na desilusão e na incredulidade.
Jesus é muito claro: só eu (e o Pai) vo-la posso dar! Quer dizer, a paz é fruto de uma pacificação interior, pois em cada um de nós mora a raiz de violência que ameaça explodir e descarregar sobre os outros. Só o encontro com Deus produz a paz dentro de nós, através da experiência quase física de ser amados, de estar no centro da atenção de um Deus misericordioso que cuida de cada ser vivente. Só descobrindo que somos amados, podemos orientar a nossa esperança e fundamentar as nossas certezas. Podemos, até, ser felizes no meio da tempestade, porque a nossa alegria não se esgota na emoção de um momento, mas na certeza de que o Senhor está sempre presente no barco da nossa vida.
O cristão é pacifista, porque está pacificado no íntimo do seu ser, porque vê a história e os homens de forma diferente, exatamente como Deus os vê. Por isso, nunca desanima de ser construtor da paz, pois para nos abrirmos ao encontro com o verdadeiro Deus é necessário ser pacientes e misericordiosos como Ele.
Jesus proclama “felizes” os obreiros da paz e não os que vivem sossegados, têm saúde, possuem muitos bens e podem satisfazer todos os seus apetites.
O Papa Francisco, que nunca se cansa de rezar pela paz no mundo e sempre manifesta a sua disponibilidade para ser “artesão da paz”, afirma:
O caminho para uma melhor convivência implica sempre reconhecer a possibilidade de que o outro contribua com uma perspetiva legítima, pelo menos em parte, algo que possa ser recuperado, mesmo que se tenha equivocado ou tenha agido mal. Porque «o outro nunca há de ser circunscrito àquilo que pode ter dito ou feito, mas deve ser considerado pela promessa que traz em si mesmo», uma promessa que deixa sempre um lampejo de esperança.
Fratelli Tutti, 228
Foto da capa: Santarcangelo di Romagna, Igreja da Colleggiata: Maria apresenta o Menino a Francisco e António. 1755, G. Melchiorre. Foto Claudio Pagliarani