Alice Cardoso
A ideia de receber uma Jornada em Portugal tem sido, para mim, tanto entusiasmante como assustadora. A parte entusiasmante deste evento mundial é a sua capacidade de trazer uma nova vida às igrejas locais, em termos de vivência em comunidade e trabalho na pastoral juvenil. A parte assustadora prende-se com o facto de haver ainda algumas comunidades, que não estão preparadas para receber tantos peregrinos, de haver ainda quem não conheça a JMJ, ao fim deste tempo todo, e ao medo do que virá depois. Haverá de facto frutos ou, em algumas comunidades, vai permanecer o vazio que já havia antes de chegar a JMJ?
Apesar destes receios, que, por vezes, nos querem impedir de trabalhar, o COD Coimbra conseguiu criar um projeto, que se insere nas suas atividades: o Coro do COD, do qual também faço parte.
Como jovem desta diocese e antiga aluna do Conservatório de Música de Coimbra, posso garantir-vos que a igreja portuguesa já precisava, há algum tempo, de algo assim: um coro que não seja assim tão beato, que possa acolher toda a gente e mostrar aos jovens e adultos que, para rezar, não valem só os cânticos gregorianos. (Atenção! Tenho todo o respeito pelo canto gregoriano e pela sua importância.) Sei que nos anos 80 houve alguns projetos de bandas musicais católicas e conheço algumas recentes que estão no ativo, mas que têm pouca visibilidade.
Sinceramente, acho que estávamos a precisar de investir um bocadinho mais no SacroPop. (Sim, podem ficar chocados/as por lhe ter chamado SacroPop.) Porque os jovens ouvem Pop e se existem músicas hereges, românticas e fatelas, que todos os jovens gostam, porque é que não pode haver músicas sacras, que falem sobre verdadeiros encontros com Deus?
Nesse aspeto, sempre achei que estávamos um passo atrás, em relação aos Protestantes, que fazem concertos lindos e sentidos só com músicas que falam de Deus. A igreja católica portuguesa tem tanta sede, no campo musical, que até já andamos a cantar as músicas dos Protestantes. Certamente que o/a leitor/a deverá conhecer músicas como o “Oceanos” e o “Quão Belo Este Nome”, dos Hillsong, porque são lindas, intensas, ficam no ouvido e são Pop. Nesse sentido, é preciso ensinar toda a gente a rezar com música. É urgente atrair novamente os jovens para a igreja através da música e criar beats com os quais toda a gente (ou a maioria) se identifique e com os quais se possa chorar, dançar ou até adorar o Santíssimo.
No Coro do COD Coimbra temos isso tudo. Temos malta beata com muito boa disposição, temos malta que não é beata, mas que sabe cantar e tocar à brava, temos génios da música, temos padres, consagradas, leigos, famílias, temos diversão e, como consequência, temos oração, encontros com Deus e podemos levar isto tudo ao público e à igreja. Este coro faz-me deixar de ter medo de cantar uma música sacra no meio da rua. Não estou a falar do “Guiado pela mão” ou do “Onde Deus te Levar”. Estou a falar das nossas criações, dos hinos das outras JMJ, de músicas novas e leves, que toda a gente pode cantar na paróquia.
Como membro do Coro do COD, tenho esperança de que este projeto nos ajude, como jovens, a deixar os grilhões das músicas antigas e a investir em criar músicas e letras para as nossas comunidades, de forma a encontrar uma forma mais leve de rezar, com a qual toda a gente se identifique.

Alice Cardoso tem 24 anos e é mestre em Tradução pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Faz parte de vários grupos da pastoral juvenil, entre eles o SDPJ, o COD Coimbra e o Grupo de Jovens das Torres do Mondego.
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