No momento em que escrevo estas linhas encontro-me em casa como tantíssimas outras pessoas por esse mundo fora. Ninguém imaginava há pouco tempo atrás que esta situação pudesse ser possível. Assistimos completamente espantados a tudo o que está a acontecer e, com ansiedade, aguardamos os números que os países vão divulgando, de modo a tentar perceber o evoluir da situação.
Como é possível que algo que tenha surgido num local de um país tão longe do nosso possa ter paralisado, não só aquele território, como praticamente todo o mundo? Como é possível que o mundo, como nós o conhecemos, de repente, se veja tão afetado e transformado? Eu não sei as respostas para estas perguntas. Parece até que neste momento ninguém sabe bem.
Sei, porém, que elas são importantes na medida em que o conhecimento das causas nos poderá ajudar a encontrar as soluções. Mas sinceramente também penso que não nos podemos concentrar só no conhecimento das causas, pois neste momento, é urgente assumirmos atitudes e estilos de vida, que nos ajudem a lidar com a situação.
Informação e desinformação à velocidade do vírus
Perante o que está a acontecer tenho ouvido tanta informação (apetecia-me dizer também desinformação) que me interrogo sobre a real utilidade de tal quantidade. Não tenho a menor dúvida de que a informação, a mais correta possível e a mais fidedigna possível, é verdadeiramente essencial neste momento, mas o que está acontecer vai muito para além disso, e, constantemente, somos inundados, nas diversas redes sociais que frequentamos, com notícias, comentários e opiniões, que são, depois, multiplicados a uma velocidade equivalente à do vírus.
Da minha parte já decidi que me concentrarei naquela que as autoridades sanitárias forem revelando, deixando o mundo da mera opinião e do ‘acho que’ para outro plano. Se tenho de escolher em quem confiar, decido fazê-lo naqueles que estão investidos de legitimidade, autoridade para realizar uma missão nesse campo, mesmo sabendo que, nesta situação tão desconhecida, podem nem sempre acertar, nem fazer da maneira mais perfeita.

Teorias da conspiração
Também por isso me recuso em alinhar nas teorias da conspiração, venham elas de onde vierem, procurando encontrar responsáveis e justificações para atitudes e decisões que, de outro modo revelariam a sua total inconsistência.
Castigo ou compaixão?
E porque sou crente, digo também que me recuso em aceitar aquelas explicações que querem ler a situação atual como sendo o resultado do castigo de Deus, devido à nossa maneira de viver. No Deus que Jesus Cristo revelou não sou capaz de encontrar nenhum traço que aponte nessa direção. Pelo contrário, acredito profundamente que, neste momento, connosco e no meio de nós, está a sustentar-nos e a inspirar-nos para que saibamos responder aos desafios que enfrentamos.
Sim, acredito que não estamos sozinhos; acredito que não estamos abandonados. Se estivermos atentos aos traços da sua presença, certamente vamos descobrir como nos está a amparar e impulsionar, não para fazer as coisas acontecer magicamente, mas para que nós, cada um de nós, saibamos, com coragem, fazer aquilo que temos de fazer, não podemos deixar de fazer e ninguém, nem mesmo Ele, atrevo-me a dizer, pode fazer por nós.
Redes de atenção e cuidado
E os traços estão aí. Um número, cada vez maior de pessoas, começa a organizar-se e a fazer propostas, começa a construir outras redes de atenção e cuidado. Apesar de ainda haver quem insista em promover a solução do ‘cada um por si’ (seja a nível individual ou ao nível dos estados), todos já vamos percebendo que a solução não passa por aí, mas sim pela procura e promoção do bem comum e pelo cuidado do outro.
A este nível os cristãos e as comunidades cristãs têm um papel indispensável a desempenhar. De facto, a promoção do bem comum e o cuidado do outro são notas distintivas da sua identidade.
Cada um, mesmo em sua casa, utilizando todos os meios de que dispõe, pode ir fazendo alastrar esta outra rede de solidariedade e de fraternidade humana, dando uma especial atenção a aqueles que, também nestas ocasiões, são os mais esquecidos.
Não conheço bem as causas desta situação, mas sei que quanto mais nos unirmos, procurando o bem comum e cuidando uns dos outros, tanto mais rapidamente saberemos enfrentar e ultrapassar os desafios. Sei também que podemos aproveitar esta ocasião para depois repensarmos os nossos estilos de vida. E acredito, repito, que nisto não estamos sozinhos.
Relevo deste artigo muito oportuno do Professor Juan Ambrosio, a frase: «No Deus que Jesus Cristo revelou…acredito profundamente que, neste momento, connosco e no meio de nós, está a sustentar-nos e a inspirar-nos para que saibamos responder aos desafios que enfrentamos.» Não há nenhum desafio, como sugere, que nos seja enviado que tenha que ser resolvido por Nosso Senhor Jesus Cristo. O que Ele espera de nós é que na fé profunda na Sua pessoa, contribuamos com a nossa parte para a solução do mal. Como filhos de Deus, participamos da escuta da Sua palavra condutora para a vitória sobre o mal.
Teresa Ferrer Passos