Conjugar um nós

Começou, a 17 de outubro, o Sínodo nas diversas dioceses do mundo católico. Abre-se um caminho que não deixará as coisas como antes. Que se espera? Que caminhos há para desvendar? Que aurora pode acontecer na noite de humilhação que os diversos escândalos têm produzido na Igreja?

Vale a pena ouvir as palavras do Papa na reflexão de abertura do Sínodo, a 9 de outubro.
Citando Ives Congar: “Não é preciso fazer outra Igreja; é preciso fazer uma Igreja diferente” (Verdadeira e Falsa Reforma na Igreja, Milão 1994, 193), o Papa desafia a comunidade cristã a entregar-se de alma e coração a este desafio transformador e renovador: comunhão, participação e missão não são palavras gastas, mas palavras geradoras, palavras capazes de gerar uma nova consciência de ser Igreja.

Estas três palavras têm estado no centro de muitos dos encontros pastorais dos tempos recentes. Importa que sejam assumidas como um maneira de ser e de estar, como um apelo à conversão, não só dos corações, mas também de estruturas. O Sínodo poderá ser uma enorme escola de aprendizagem da participação e da comunhão.

Não há, no povo de Deus, uma cultura de participação

Carregamos muitos séculos de ouvir, assistir e cumprir. Falamos muito de missão e até se avança com novos métodos de marketing, mas ficamos perturbados com palavras como inculturação, ecumenismo e diálogo inter-religioso.

Que diz o Espírito à Igreja?

Que dirá o Espírito à Igreja se nos dispusermos a escutar o Ruha de Deus na vida das pessoas, nos seus problemas quotidianos e no seu sentido profundo de fé? Uma Igreja sinodal será uma Igreja aberta a essa escuta e aos profetas que vão lendo os sinais dos tempos.

Um caminho que deve ser percorrido como o povo de Israel no deserto: assumir o caminho e o seu horizonte sem se deixar perder pela saudade das cebolas em tempo de servidão. Com a coragem de enfrentar caminhos novos e desconhecidos que a cultura de hoje vai traçando e para os quais as nossas velhas regras e as nossas velhas leis pouco valem…

Será um caminho com todos. Com a coragem de ouvir vozes dissidentes e distantes, porque por elas também o Espírito envia sinais à Igreja. O caminho sinodal não será caminho aberto se não houver de todos uma vontade de caminhar e de dar as mãos aos que se atrasam. Não haverá caminho sinodal se houver quem queira isolar-se do conjunto para caminhar solitariamente.

O Sínodo deve ouvir também os sinais da mãe terra que tem sido espoliada pela ganância e pela incúria. Porque sem terra saudável não há espaço para habitar.

Poderemos estar no acontecimento eclesial mais significativo depois do Concílio Vaticano II. São caminhos abertos de reconfiguração das próprias estruturas da Igreja, removendo as lógicas de poder e de riqueza que alguns insistem em não abandonar. Avançar sem receio dos medos, como dizia o cardeal Grech, desafiando os crentes a expressarem os seus medos para que possam ser ultrapassados com a ajuda do Secretariado do Sínodo.

Mas não há caminho sem escolhos

O Papa refere três escolhos que se vão atravessar no caminho sinodal : o individualismo, o intelectualismo e o imobilismo.

São riscos aos quais urge prestar atenção para que o Sínodo não seja uma revolução lampedusiana: mudar alguma coisa para tudo ficar na mesma. Esta tentação está presente em todos os processos de transformação: os que não querem que nada mude procuram apenas dar uns toques na maquilhagem.

A aventura começou. Que ela seja uma enorme peregrinação, uma marcha comum. Acreditamos que o Espírito de Deus estará como o seu sopro a refrescar esta Igreja. Acreditamos que o Espírito soprará as velhas folhas para que rejuvenesca a árvore antiquíssima.

Abertura do Sínodo dos Bispos: vista panorâmica da praça de São Pedro. Foto Ricardo Perna | Família Cristã.
Abertura do Sínodo dos Bispos: vista panorâmica da praça de São Pedro. Foto Ricardo Perna | Família Cristã.

Oxalá aqueles que devem ser os animadores desta peregrinação não digam (como recentemente alguém referia): “Le synode c’est moi” (O Sínodo sou eu).

Foto da capa: Abertura do Sínodo dos Bispos e vista panorâmica da praça de São Pedro. Fotos Ricardo Perna | Família Cristã.

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