Em sete cartas, Nouwen propõe ao seu sobrinho Marcos – que não teve praticamente formação religiosa e apenas se interessou esporadicamente pelo Evangelho – uma viagem ao centro vital, para aí descobrir o pilar basilar: o coração da nossa existência, Jesus. Nesta viagem de carácter mistagógico, o autor vai sucessivamente apresentando em cada uma das cartas as diferentes facetas de Jesus: o Deus libertador, compassivo, que desce e que ama; o Deus escondido, o Deus que fala. O objetivo de Nouwen é trazer Jesus para mais perto de Marcos – e do leitor – de modo a despertar “nele um amor profundo por Jesus”. Tal amor traduz-se numa vida espiritual autêntica, que se identifica “com o coração da existência (…) o centro do nosso ser, aquele lugar em que somos nós mesmos, onde somos mais humanos, onde somos mais reais”.
O itinerário proposto por Nouwen começa com uma meditação a partir da passagem dos discípulos de Emaús. As suas reflexões têm como tela de fundo a Eucaristia, não descurando temas mais sensíveis como a morte e o sofrimento. O autor adverte o sobrinho que “sem a morte e a ressurreição de Jesus, o Evangelho é um conto bonito sobre uma pessoa excecionalmente santa, uma fábula que pode inspirar bons pensamentos e grandes fatos, mas há histórias do mesmo género. O Evangelho é, em primeiro lugar e acima de tudo, a história da morte e ressurreição de Jesus e essa história continua a ser o centro da vida espiritual”. Nouwen reconhece que ele próprio, ao dar o seu testemunho, acabou “por conhecer melhor Jesus, e assim, poder ouvir melhor o seu convite ao seguimento”.
O autor escreve estas cartas num dos períodos mais interessantes da sua vida, falando de Jesus a partir da sua própria experiência. Apesar disso, e talvez por isso mesmo, as cartas têm um cariz atual, uma vez que perguntas fundamentais como “se tenho tudo que me pode oferecer Jesus?” permanecem vivas.