O escritor israelita Amos Oz – que recentemente nos deixou – representa uma das vozes mais reconhecidas no meio literário mundial. Mas também o seu papel público e crítico em relação à presença do estado de Israel nos territórios palestinianos catapultou-o para o espaço de relação das religiões. É na busca da identidade histórica e religiosa de Israel, em relação com o mundo árabe, que surge Caros Fanáticos.
Refere Amos Oz que “basta eliminar o que está a mais, apontar o demónio certo para cada um de nós e depois matá-lo (juntamente com os seus vizinhos, ou quem se encontrar na vizinhança), e desse modo abrir de uma vez por todas os portões do paraíso”. Nesta identificação do modo de pensar de um fanático, Oz expõe como o fanatismo é comum e anterior a todas as religiões, pertencendo ao próprio modo de ser humano. Israel surge, assim, como a utopia de um estado democrático e fraterno no contexto do médio oriente, mas possível apenas na relação com um estado palestiniano igualmente constituído. Colocar-se no lugar do outro, do seu modo de pensar e agir, no seu património cultural e nas condicionantes do seu viver constituem as condições para a superação de um espírito fanático. Isto, aliado a um sentido de humor e a uma própria relativização – porque realista – da própria identidade.
Levar-nos-á, por vezes, a uma descoberta espetacular, a descoberta da existência de muitos rios, de cujas margens se vislumbram paisagens diferentes, empolgantes e surpreendentes; margens excitantes mesmo que não se adequem a nós; margens surpreendentes mesmo que não nos atraiam. Talvez seja na curiosidade que de facto se esconde a possibilidade de abertura e de tolerância.

Caros Fanáticos
Autor: Amos Oz
Edição: D. Quixote
Páginas: 144
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