Artigo de Frei Manuel Rito Dias, OFMCap
Francisco de Assis nunca caminhou sozinho, a não ser quando se isolava para caminhar com Deus na oração. Quando dizia aos irmãos para irem pelo mundo anunciar a paz e a penitência, dividia-os em grupos de 4 e enviava-os juntos dois a dois (IC XII, 29). Quando pensou pedir para a Ordem a benção do papa, caminhou junto com todos os irmãos (eram 12) para a aprovação da Primeira Regra (IC XIII, 32 e TC XII 46). Caminhou com os irmãos para ser o menor de todos, caminhou com a Igreja para a servir nos mais pequenos, caminhou com a mãe Terra para se sentir irmão universal.
Sínodo é uma palavra antiga, mas o papa Francisco atualizou-a porque a sinodalidade devia ser recuperada nos caminhos eclesiais de hoje.
Existe uma sinodalidade existencial desde que nascemos. Se eu caminho é porque existe um caminho; é um caminho largo porque somos muitos a caminhar; é um caminho único, por isso caminhamos juntos.
Logo que nascemos, caminhamos com os pais. Quando crescemos, caminhamos com a sociedade.
Também na Igreja tudo deve ser sinodal, pois quando nascemos para a fé, começamos a caminhar juntos com a família, a paróquia, a Igreja universal. Ali nos encontramos num espaço comum, todos iguais pelo batismo, onde todos, incluindo padres e bispos, devem falar e ouvir toda a gente.
Na história da salvação, Deus caminhou com os Patriarcas e os Profetas. Caminhou a chorar com o Povo Hebreu na ida para o exílio e, com o mesmo Povo, caminhou a cantar no seu regresso.
Cristo com os Apóstolos e os Apóstolos com os primeiros cristãos caminharam juntos no anúncio do Reino e na consolidação das primeiras comunidades.
Hoje, “a sinodalidade é o modo de ser Igreja, segundo a vontade de Deus, numa dinâmica de escuta e discernimento do Espírito Santo” (Papa Francisco). Em comunhão, como método de ação e como tempo de partilha, com a coragem para saber inverter a pirâmide; na participação, humilde e transparente para aprender a escutar antes de pedir a palavra; na Missão, “alargando o espaço da nossa tenda e abrindo as cortinas da nossa casa” (Is 54, 2), numa Igreja dialogante e peregrina.
“Quando damos prioridade à vocação batismal, já não podemos separar clero e leigos, como faz o modelo clerical”. (Nathalie Becquart, secretária geral do Sínodo).
Os numerosos institutos franciscanos de Portugal dão um bom exemplo de sinodalidade, no caminho que fazem juntos como Família Franciscana Portuguesa, agrupando cerca de 30 Ordens e Congregações masculinas e femininas de todo o país.
Os Estatutos vinculam cada instituto para caminhar juntos, com a Igreja, em projetos de formação, de convivência fraterna, de celebrações comuns e planificação de eventos comemorativos.
Além da Peregrinação Franciscana e do capítulo das Esteiras, que todos os anos põe a caminho milhares de franciscanos, também o dia da Vocação franciscana, o Centro de Franciscanismo e o Retiro Franciscano refletem o dinamismo de um caminho comum franciscano.
Ainda em sintonia com o caminho sinodal em curso na Igreja, a Peregrinação Franciscana este ano foi dinamizada por uma “Fraternidade Aberta em Caminhada Sinodal” e a Semana Bíblica Nacional no Centro Bíblico dos Capuchinhos refletiu sobre “da Bíblia à Igreja Sinodal”.
Presentemente estamos a preparar para os próximos anos uma caminhada comum na celebração dos Centenários Franciscanos.
Caminhar com a Igreja ao ritmo de Francisco de Assis é entrar em pleno no caminho sinodal.

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