Breve de Santo António

Dos vários milagres atribuídos a Santo António passados em Portugal, destaca-se o milagre ocorrido em Santarém onde Santo António intervém para defender uma mulher das tentações do demónio, entregando-lhe um pedaço de pergaminho onde estava escrita uma pequena oração:

Ecce Crucem Domini,
fugite partes adversae,
vicit Leo de tribu Iuda,
Radix David! Alleluia, alleluia.

Eis a Cruz do Senhor!
Fugi, inimigos da alma,
venceu o Leão da tribo de Judá,
raiz de David. Aleluia, Aleluia.

Vinheta, séc. XX, papel, 38 mm x 27 mm, Museu de Lisboa - Santo António
Vinheta, séc. XX, papel, 38 mm x 27 mm, Museu de Lisboa – Santo António

A partir desse momento, a pobre mulher nunca mais foi instigada, até ao dia em que El-Rei D. Dinis soube do caso e lhe pediu o pergaminho, o que provocou o regresso das tentações infernais.

E o caso foi que, apenas sem ele, logo a pobre da mulher começou outra vez a ser tentada. Compadeceu-se o marido, e como já não podia haver o breve, que dele não se desfaria el-rei, valeu-se dos Frades Menores que a Dom Dinis pediram uma cópia e a trouxeram. E quando a entregaram à mulher, eis que ficou livre da tentação, como dantes quando consigo trazia o breve primitivo.

(Excerto do milagre que vem reproduzido nas Crónicas dos Frades Menores, manuscrito do século XV editado em 1918, assim como nas Florinhas de Santo António, ed. de 1947).

Esta oração ou breve de Santo António como é mais conhecido, irá adquirir grande importância quando o Papa franciscano Sisto V (Pontífice entre 1585 e 1590) o manda esculpir na base do obelisco erigido na Praça de S. Pedro, em Roma.

Pequeno exorcismo de proteção, vamos encontrá-lo também na base de várias cruzes de pedra erguidas nas entradas das localidades, à semelhança do que se fazia com os nichos de Santo António colocados nas portas das muralhas das cidades. Surge assim esculpido nos cruzeiros do séc. XVII que ainda hoje existem na Cruz Quebrada e em Algés ou na base da cruz de pedra que existia em Caxias, apenas para indicar alguns lugares nos arredores de Lisboa.

O Museu tem no seu acervo várias peças que reproduzem esta oração, em pagelas ou medalhas, mas destacamos aqui uma pequena vinheta com o breve de Santo António, também da coleção do Museu, impressa em Jerusalém, onde Santo António é padroeiro da Custódia da Terra Santa desde o conflito anglo-turco da década de 1920.

Esta vinheta tem ainda as iniciais S.A.G. (em inglês Saint Anthony Guide), adágio que também os portugueses usavam, escrevendo nos sobrescritos “S.A.T.G.” (Santo António te guie) para que o correio chegasse ao seu destino sem sobressaltos. Mas isso já tem origem noutros milagres de Santo António.

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