Bem aventurado o ventre que trouxe

A Palavra de Deus

Naquele tempo, enquanto Jesus falava, uma mulher levantou a voz no meio da multidão e disse:
“Bem aventurada aquela que Te trouxe no seu ventre e Te amamentou ao seu peito”.
Mas Jesus respondeu:
“Bem aventurados aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática”.

Lc 11, 27

A palavra de Santo António

Bem-aventurado o ventre da gloriosa Virgem, da qual escreve S. Agostinho no livro De Natura et Gratia: “Quando se trata de pecados, excetuo a Santíssima Virgem”, da qual, por honra do Senhor, não quero absolutamente se faça questão alguma.

De facto, sabemos que lhe foi conferida mais graça para vencer o pecado, em todos os aspetos, de maneira que mereceu conceber e dar à luz aquele que seguramente não teve pecado algum.

Exceptuada, portanto, esta Virgem, se todos os santos e santas pudessem reunir-se e lhes fosse perguntado se tinham pecado, que responderiam senão o que diz S. João: “Se dissermos que não temos pecado, a nós mesmos nos enganaremos, e não está em nós a verdade” (1Jo 1,8).

Porém, aquela Virgem gloriosa foi prevenida e cheia de graça singular, para que tivesse como fruto de seu ventre aquele mesmo que de início o universo teve como Senhor.

Sermão de Santo António em louvor da Santíssima Virgem Maria

Aprofundemos

O nosso Santo, nos seus Sermões, não fala da imaculada conceição de Maria, como, por exemplo, São Bernardo. Em vez disso, ele afirma, com base no testemunho de Santo Agostinho, que falando do pecado, exclui dele a Virgem Maria.

O louvor que a mulher do Evangelho atribui à mãe de Jesus é o que cada mãe diz quando o filho consegue um belo sucesso, por exemplo nos estudos, ou quando recebe um encargo, um importante reconhecimento. Maria, afirma, deve estar orgulhosa, feliz, abençoada, pelo filho saber responder tão bem a quantos o acusam de expulsar os demónios em nome do chefe dos demónios (Lc 11,14-25) e afirmar sem meias medidas: “Quem não está comigo, está contra mim; e quem não recolhe comigo, dispersa”(Lc 11, 23).

Jesus não responde ao louvor, mas orienta a atenção da mulher para outra felicidade, a verdadeira, que consiste em escutar e seguir, não uma glória humana, mas a Palavra de Deus: “Bem-aventurados aqueles que ouvem a Palavra de Deus e põem em prática”. É isto o que verdadeiramente faz crescer em sabedoria, bondade e graça, como soube fazer Maria quando lhe foi pedido de se tornar mãe do Filho do Altíssimo. “Eis, respondeu ao anjo, eu sou a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).

Pouco depois, a sua prima Isabel ter-lhe-ia dito o mesmo: “Bem aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor” (Lc 1,45).

A mulher deveria saber isso, se tivesse ouvido a resposta de Jesus a quem o foi procurar: “Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te”. Mas não estavam ali para o escutar como a multidão e, então, Jesus diz: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8,21). A curiosidade, as satisfações são coisa boa, mas há mais. A verdadeira felicidade é a do coração e só se encontra se no coração estiver Deus, como dizia Santo Agostinho, que Santo António conhecia bem, por ter escolhido seguir a sua Regra de vida, em Santa Cruz.

Maria é bem aventurada não só por ter trazido no seu ventre o Verbo de Deus, mas também, porque realmente praticou os preceitos de Deus.

Foto da capa: Imaculada Conceição, fresco no tecto do presbitério da Igreja de Santo António dos Olivais, em Coimbra. Foto MSA 2012.

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