Beato Marcel Callo

Escuteiro, jocista, demasiado católico

A história de Marcel Callo é “uma das mais impressionantes de todo o século XX […] pela maneira essencialmente cristã como viveu a sua curta, mas preenchidíssima existência” (D. Manuel Clemente em https://youtu.be/KmtcPdwJEPs).

Nascido a 6 dezembro de 1921, em Rennes (França), Marcel Callo foi o 2º mais velho dos oito filhos do casal Callo. Desde cedo se fez notar: nos Escuteiros ou a cuidar dos irmãos mais novos, era um verdadeiro líder e um perfeccionista.

Aos 13 anos foi trabalhar para uma tipografia. Rapaz recatado, não se deixava abater pelos desaforos dos seus colegas de trabalho, que o chamavam de “beato”; preferia a companhia dos seus amigos da JOC (Juventude Operária Católica), a que pertencia com orgulho. Tinha bom sentido de humor, gostava de futebol, ping-pong e de jogar cartas (especialmente Bridge).

Aos 20 anos, apaixonou-se por Marguerite Derniaux. Ao contrário dos colegas, uns fanfarrões no que às “aventuras amorosas” diz respeito, Marcel era respeitoso para com as raparigas:

Se tive que esperar até aos 20 anos para sair com uma rapariga, é porque queria encontrar o verdadeiro amor. Devemos dominar o nosso coração antes de o podermos dar a quem nos foi escolhido por Cristo.

Quando ficaram noivos, decidiram rezar as mesmas orações e participarem na Eucaristia tão frequentemente quanto podiam.

A 8 de março de 1943, a 2ª Guerra Mundial chega a Rennes. É nesse dia que morre sua irmã Madeleine (no mural em cima, à direita), vítima de um bombardeamento. Com a ocupação nazi de toda a França, Marcel é deportado para Zella-Mehlis, na Alemanha, para o STO (Serviço de Trabalho Obrigatório).
Na Alemanha, Marcel foi forçado a trabalhar numa fábrica de bombas. Cerca de três meses após ter deixado a família, impedido de participar na Eucaristia, Marcel ficou muito deprimido. Só mais tarde encontrou um local onde era permitida a celebração Eucarística dominical, renovando-se assim também a sua esperança e ânimo:

Finalmente Cristo reagiu. Ele fez-me entender que a depressão não era algo bom. Eu tinha de me manter ocupado com os meus amigos; então a alegria e o alívio haveriam de regressar.

Foi então que encontrou forças para cuidar dos seus amigos deportados. Organizou um grupo de trabalhadores cristãos para praticarem desportos, jogar cartas e fazer teatro. Tudo fazia para motivar os seus companheiros, apesar de sofrer permanentes e dolorosas infecções e fortes enxaquecas. Chegou mesmo a conseguir organizar uma Eucaristia na sua língua materna. Tais iniciativas atraíram a atenção dos alemães, ao ponto de o terem prendido, a 19 de abril de 1944, dizendo que ele era “demasiado católico”.

Levado a interrogatório, Marcel admitiu todas as suas iniciativas religiosas, sendo depois enviado para a cidade de Gotha. Enquanto esteve ali preso, recebia a Eucaristia secretamente e continuava a rezar e a ajudar os seus companheiros. Acabou por ser transferido para uma prisão diferente: o campo de concentração Mauthausen-Gusen, na Áustria. Apesar do seu sofrimento, encorajava os seus companheiros dizendo-lhes: “É na oração que encontramos a nossa força”.

Morreu aos 24 anos de idade, a 19 de março de 1945. Foi beatificado por João Paulo II, a 4 de Outubro de 1987. É uma das inúmeras Vítimas do Nazismo (Paulinas, 2007) cuja coragem e fé nos continuam a inspirar.

Foto da capa: Marcel Callo e a irmã Madeleine num mural pintado em Rennes.

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