Beato Isidoro Bakanja

Um dos temas que marcou o ano de 2020 foi o da violência racial, sobretudo a que tem nos nossos irmãos de cor negra as suas vítimas.

Sabemos todos que este não é um problema novo e que demasiadas vezes tal violência foi até justificada em nome da religião. Mas a História também nos apresenta testemunhos de quem, perseguido por causa da sua fé, soube responder com amor e perdão. Esse é o exemplo do jovem Isidoro Bakanja.

Nasceu em Bokendela (entre 1885 e 1890), no “Congo Belga”, atualmente República Democrática do Congo. Eram tempos difíceis para os povos autóctones como a sua tribo Boangi, subjugados pelos homens do rei Leopoldo II da Bélgica, que tinha como único objetivo explorar as vastas riquezas daquele território (café, cacau, borracha natural, minerais, marfim…) que era gerido como sua propriedade pessoal.

Decide ser batizado a 6 de maio de 1906, após entrar em contacto com Missionários Carmelitas. Como presente e “marca” recebe dos Missionários um Rosário e um Escapulário de Nossa Senhora do Carmo.

Isidoro sentiu-se verdadeiramente transformado pela fé: os duros trabalhos no campo eram aliviados pela alegria e esperança dos cânticos e orações entoados e proclamados muitas vezes em voz alta, não sem surpresa e admiração dos seus companheiros de escravidão. Assim viveu a sua adolescência, entre os trabalhos penosos que lhe garantiam, apesar de tudo, algum sustento próprio, e a sua devoção e fé inabaláveis.

Certo dia, estando a trabalhar numa plantação de borracha em Ikiri, pertencente a um colonizador belga ateu, foi por este proibido de rezar ou cantar durante o horário de trabalho, e impedido de usar em público o escapulário e de ter consigo o rosário. Isidoro, ao ver-se impedido de testemunhar livremente a sua fé, decidiu abandonar a plantação. Mas o colonizador prende o jovem e chicoteia-o, com tanta força que as suas costas se convertem numa grande chaga. A ferida obriga-o a uma longa convalescença (6 meses), um tempo de sofrimento mas também de solidariedade com os seus companheiros, com quem repartia os alimentos que recebia e continuava a animar com palavras de fé e de perdão. A este respeito, terá dito:

O branco não gostava dos cristãos. Não queria que eu trouxesse o escapulário. Insultava-me quando rezava. (…) Se Deus quer que eu viva, viverei; se Deus quer que eu morra, morrerei. Para mim é igual. (…) Não guardo nenhum rancor contra o branco. Açoitou-me mas isso é um assunto seu. Se morrer, pedirei desde o Céu muito por ele.

Morre a 15 de agosto de 1909 (com 20 a 25 anos), rodeado dos seus companheiros de trabalho, com o rosário nas mãos e o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo ao pescoço.

A sua vida, um cântico de conversão, de amor, de fé e de perdão, levou o Papa João Paulo II a beatificá-lo em 1994, chamando-lhe o “Mártir do Escapulário”. O seu testemunho foi semente de obras de caridade promovidas por leigos e leigas carmelitas e demais devotos do escapulário de Nossa Senhora do Carmo. Se quiseres saber mais, o Frei João Costa publicou uma pequena biografia deste beato intitulada Beato Isidoro Bakanja: Negro, puro e mártir (Edições Carmelo).

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