Filha de D. Afonso V, rei de Portugal e de sua mulher, D. Isabel de Coimbra/Lencastre, nascida em Lisboa a 6 de fevereiro de 1452, Joana foi sinónimo de esperança e alegria, pois era a solução para o problema da sucessão ao trono. Contudo, e mesmo que o povo nunca tenha deixado de ver nela a sua “Princesa”, com o nascimento de seu irmão D. João II, em 1455, ficava finalmente resolvido o problema sucessório.
Órfã de mãe desde os 4 anos, Joana foi instruída nas virtudes humanas e cristãs. Aos 15 anos, seu pai, vislumbrando nela uma invulgar inteligência e ponderação, faz dela a depositária da herança da sua falecida mulher: do uso das jóias reais à gestão do Paço da Rainha, a jovem Joana ocupou o lugar feminino mais proeminente na Corte. Tais atributos, somados a uma espantosa beleza, bem como as conveniências diplomáticas, auguravam um casamento com o rei de França ou o rei de Inglaterra. Contudo, a jovem não era àquele “mundo”, nem àqueles “amores”, que queria entregar a sua vida. Foi Jesus Cristo e o Seu mandato de amor ao próximo que a seduziram desde cedo.
Além de registar, num livro, os nomes, as necessidades específicas e os dias em que deveria ser dada esmola às pessoas por ela ajudadas, na Semana Santa, costumava lavar os pés a 12 mulheres, a quem dava roupa, alimentos e dinheiro; e tudo isto em segredo…
Em 1471, aproveitando o bom humor de seu pai, que regressava vitorioso da tomada de Arzila e Tânger, e gozando de algum crédito pela capacidade demonstrada na regência do Reino durante a sua ausência, Joana decide tornar pública a sua vontade mais íntima: tornar-se religiosa. E fê-lo com argumentos tão eloquentes e com tal dignidade que o rei, vencido (mas contrariado), aceita enviá-la primeiramente para o Mosteiro de Odivelas, seguindo depois para o de Santa Clara, em Coimbra. Contudo, Joana não queria ficar pela nobre cidade de Coimbra, mas antes seguir para a pobre vila de Aveiro, onde encontraria o rigor do “desterro” por si desejado junto das Dominicanas do Mosteiro de Jesus.
Seguiram-se 18 anos de uma “estranha forma de vida”: forçada a cumprir as obrigações do protocolo de Estado, não pôde professar solenemente; era a primeira das mulheres do Reino, mas sentava-se nos últimos lugares dos bancos do coro do Mosteiro, junto às noviças. Só após a morte do pai, em 1481, tendo sido aclamado rei o seu irmão D. João II, Joana fez finalmente voto de castidade.
Quando morreu, a 12 de maio de 1490, com 38 anos, muitos reconheceram nela o “odor” da santidade. Beatificada a 4 de abril de 1693, pelo papa Inocêncio XII, foi declarada padroeira da cidade e diocese de Aveiro pelo papa Paulo VI, a 5 de janeiro de 1965.
A iconografia da jovem Joana resume a sua biografia e testemunho: vestida com o hábito Dominicano, tem nas mãos a Cruz, o seu único amor; no chão jazem as três coroas de outros tantos “amores” que, por amor a Cristo, recusou; e na fronte, em vez da coroa real, uma “coroa de espinhos”, divisa por si escolhida e com a qual marcava a sua roupa.
Foto da capa: Retrato de Joana, Princesa de Portugal, autor desconhecido do sec. XV. Obra preservada no Mosteiro de Jesus, Aveiro, Wikimedia Commons.