As ilhas das Especiarias

A longa travessia do Oceano Pacífico, do Estreito de Magalhães até a Ilha dos Ladrões, hoje Guam. https://www.rutaelcano.com/
A longa travessia do Oceano Pacífico, do Estreito de Magalhães até a Ilha dos Ladrões, hoje Guam. https://www.rutaelcano.com/

Depois de fundear, os marinheiros observam as canoas de cascos estreitos estabilizados por uma prancha delgada, a avançarem para as naus e a abordá-las. Os esfomeados marinheiros estavam alvoraçados e animados com estes visitantes alegres e calorosos, com mulheres vestidas, escreve Pigafetta, “com uma leve casca que colocam, qual folha subtil, diante da sua natureza”.

Mas, os orientais apanham tudo o que está à mão, apoderando-se de baldes, marmitas, utensílios, cabos, cavilhas, tela. Os marinheiros expulsam-nos, tentando recuperar o que foi roubado. As pirogas dispersam-se e retornam à praia com os indígenas satisfeitos com o produto do seu roubo.

Estes roubos provocam a ira de Magalhães que organiza uma expedição punitiva. Quarenta homens chegam ao areal e incendeiam as choupanas e as pirogas e regressam a bordo com sacos de arroz, galinhas, porcos, peixe seco e cocos. Magalhães furioso com o acolhimento recebido depois de tantos sofrimentos declara: “chamar-lhe-emos ilha dos Ladrões”.

Estátua do lendário chefe Gadao, na baía de Inarajan, ilha de Guam (que Fernão de Magalhães chamou de Ilha dos Ladrões), https://www.visitguam.com/.
Estátua do lendário chefe Gadao, na baía de Inarajan, ilha de Guam (que Fernão de Magalhães chamou de Ilha dos Ladrões), https://www.visitguam.com/.

Após embarcar todos os mantimentos e feita a aguada, com a certeza de que as ilhas das especiarias estariam próximas, é retomada a viagem em direção a oeste. A 16 de Março a esquadra aproxima-se cuidadosamente de uma ilha que se revela desabitada. Uma baía perfeita, uma praia e colinas cobertas de arvoredo. Magalhães decide fundear e montar um acampamento na praia.

Ao fim de três dias aproximou-se uma piroga com nove indígenas. Apesar da apreensão inicial, os indígenas não dão mostras de qualquer agressividade e informam que a ilha onde se encontram se chama Humunu. Recebem com prazer as prendas que os estrangeiros lhes oferecem e retribuem com a oferta dos magros bens que se encontram nas pirogas: peixe, fruta e um cântaro de vinho de palma.

A escala revela-se benéfica. Os homens enfraquecidos recuperaram as forças e o vigor perdidos e são feitas as reparações mais urgentes. Parecia que o mais difícil estava feito. Com a marinhagem recuperada e a gozar de boa saúde, com tantas enseadas boas para fundear, com víveres frescos em abundância, entre uma população amigável, a navegação adivinhava-se certamente aprazível.

Os indígenas indicam a direção do arquipélago desejado e a 28 de Março os três navios ficaram a pairar junto a uma ilha, a ilha de Massava.

Uma piroga aproximou-se, mantendo contudo alguma distância. Magalhães ordenou que se colocasse na água uma prancha sobre a qual seriam colocados um barrete vermelho e bugigangas diversas, para que fosse ter ao encontro deles.

Encorajados pelas ofertas, os pobres pescadores ficaram animados e dirigiram-se para o navio de Magalhães, a Trinidad. Henrique, o jovem malaio comprado aos dez anos no mercado de Malaca, debruçou-se na amurada para falar com eles, justificando a designação com que o capitão-mor o tinha inscrito no rol da tripulação: intérprete.

Magalhães enviou então a terra o jovem Cristóvão Rebelo que se fez acompanhar de Henrique, numa embaixada cuja missão era afirmar ao rei da ilha as intenções pacíficas da esquadra.

O resultado foi positivo. O sultão de Massava aceitou ir a bordo levando como presentes três potes de arroz e duas douradas. Magalhães recebeu-o com solenidade e ofereceu-lhe em retribuição um fato à turca, amarelo e vermelho e, ao seu séquito, facas e espelhos. O Sultão informou Magalhães de que o grande porto comercial estava situado em outra ilha chamada de Cebu, propondo-se servir de piloto à esquadra. É para lá que as três naus se dirigem..


Foto da capa: Victoria foi o único navio que retornou a Espanha, sendo assim o primeiro barco a circum navegar o globo. A foto mostra uma réplica construída em 1992, atracada na marina de Cascais, em 2015. Foto de Pedro Mendes | Creative Commons.

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