Há palavras que deveríamos emoldurar, como se faz com uma foto de família ou uma pintura de valor.
Entre as várias palavras pronunciadas pelo Papa Francisco nos dias da sua visita às terras martirizadas do Iraque, há uma que me marcou muito: A Fraternidade é mais forte do que o fratricídio.
Ao longo de alguns dias, pouquíssimos infelizmente, desviamos a nossa atenção da onipresente pandemia, tendo os média aberto uma janela sobre a peregrinação da esperança e da paz do Papa Francisco.
Foi uma paragem curta, mas única, para nos darmos conta de outros males, terríveis, que afligem o mundo e que deixam feridas tão profundas e abertas ao ódio e à vingança.
O cume desta viagem, foi sem dúvida o encontro com os cristãos e os muçulmanos que sobreviveram à guerra e ao terrorismo do autoproclamado Estado Islâmico de 2014 a 2017. A estes o Papa falou do “vírus do desânimo” contra o qual o Senhor nos deu a “vacina da esperança” e do perdão.
Eu acrescentaria, também, a “vacina da fraternidade”, que este Papa anda a estudar desde o início do seu pontificado e que encontra nos documentos Laudato Si’, A Fraternidade humana e Fratelli Tutti, o melhor antídoto aos males do nosso tempo, lembrando-nos que o planeta é a nossa “casa comum”, que o mundo é “uma família de irmãos” e que a missão de todas as religiões é cuidar “da paz e da convivência comum”.
A viagem do Papa não foi uma loucura de aventureiro, mas a visita de um irmão aos seus irmãos mais frágeis, em linha com a sua primeira viagem a Lampedusa no início do seu pontificado.
Muito bem sintetizou tudo isso, Octávio Carmo, no editorial da Agência Ecclesia, no dia 7 de Março:
Francisco marcou, indelevelmente, o que deve ser um Papa. Disposto a oferecer a vida pelos seus, se for caso disso, ao encontro dos mais fracos, dos mais desprotegidos.
No final da tarde de um Domingo em cheio, cai mais uma mensagem no telemóvel: “Este Papa é uma máquina”. É o comentário de um paroquiano que partilha a foto de dois líderes, um branco e outro preto: o Papa Francisco, líder da Igreja Católica e o Grande Ayatollah Alì Al-Sistani, líder dos xiitas.
Foi bom, por um instante, abrir a janela e olhar a linha de um horizonte mais distante, até à terra de Abrão, lá onde três grandes religiões querem, no meio de tantos destroços, construir outro futuro.
Foto da capa: Encontro inter-religioso na Planície de Ur, Nassirya, Iraque, 6 de março de 2021. Foto EPA/Alessandro di Meo.