A sobrevivência dos mais ricos

A Oxfam International é uma confederação de 19 organizações e mais de 3000 parceiros, que atua em mais de 90 países na busca de soluções para o problema da pobreza, da desigualdade e da injustiça, por meio de campanhas, programas de desenvolvimento e ações emergenciais.

O nome “OXFAM” vem de Oxford Committee for Famine Relief. Trata-se de um grupo fundado na Grã-Bretanha, em 1942, para apoiar mulheres e crianças famintas na Grécia ocupada pelos Nazis na Segunda Guerra Mundial.

Ao longo da sua história tem lutado por uma economia que salve os mais carenciados e, nos último anos, aproveita sempre o encontro de Davos para apresentar o seu relatório anual.
No encontro de Davos, de 16 a 20 de janeiro deste ano, a OXFAN apresentou, logo no primeiro dia, o seu relatório anual com o título Sobrevivência dos Mais Ricos.

É um relatório contundente sobre a desigualdade crescente no nosso mundo. Devia ser um texto de referência para os político e detentores do poder económico neste tempo duma economia que mata.

Na caixa em baixo deixo algumas notas desse relatório, tentando imaginar o (não) impacto que este relatório possa ter tido sobre uma assembleia em que 10% dos participantes chegaram nos seus jatos particulares.
Por isso mesmo o relatório não pode ser ignorado, mas tem que ser proclamado sobre os telhados…
Não pode haver Fraternidade sem uma nova lógica económica…

Neste começar de um novo ano os meus votos para que os jovens economistas da Economia de Clara e Francisco não esqueçam o texto assinado em 24 de setembro último, em Assis.

Nós, jovens economistas, empresários, transformadores, chamados aqui a Assis de todas as partes do mundo, conscientes da responsabilidade que pesa sobre a nossa geração, comprometemo-nos agora, individualmente e todos juntos, a gastar as nossas vidas para que a economia de hoje e de amanhã se torne uma Economia do Evangelho

  • uma economia que combate a miséria em todas as suas formas, reduz as desigualdades e sabe dizer, junto com Jesus e Francisco, “bem-aventurados os pobres”,
  • uma economia guiada pela ética da pessoa e aberta à transcendência,
  • uma economia que cria riqueza para todos, que gera alegria e não apenas bem-estar, porque uma felicidade não compartilhada é muito pouco.

Nós acreditamos nesta economia. Não é uma utopia, porque já a estamos a construir. E alguns de nós, em manhãs particularmente luminosas, já vislumbramos o início da terra prometida.

Relatório da OXFAN “Sobrevivência dos mais ricos”, apresentado em Davos, a 16 de janeiro de 2023

Estamos a passar por um momento sem precedentes, de múltiplas crises. Dezenas de milhões de pessoas a mais estão enfrentando a fome. Outras centenas de milhões enfrentam aumentos inviáveis no custo de produtos básicos ou no aquecimento de suas casas.

O colapso climático está a incapacitar as economias e vemos secas, ciclones e inundações obrigando as pessoas a abandonarem seus lares. Milhões ainda sofrem com o impacto continuado da Covid-19, que já matou mais de 20 milhões de pessoas.

A pobreza aumentou pela primeira vez em 25 anos. Ao mesmo tempo, todas essas múltiplas crises têm ganhadores. Os muito ricos ficaram imensamente mais ricos e os lucros das grandes empresas bateram recordes, gerando uma explosão de desigualdade.

Desde 2020, o 1% mais rico amealhou quase dois terços de toda a nova riqueza – seis vezes mais do que os 7 biliões de pessoas que compõem os 90% mais pobres da humanidade.

As fortunas multimilionárias estão aumentando em 2,7 biliões de dólares por dia, mesmo com a inflação, superando os salários de, pelo menos, 1,7 bilião de trabalhadores – mais do que a população da Índia.

As empresas de alimentos e energia mais do que dobraram seus lucros em 2022, pagando 257 biliões de dólares a acionistas ricos, enquanto mais de 800 milhões de pessoas foram dormir com fome.

Apenas 4 centavos de cada dólar de receita tributária vêm de impostos sobre o património e metade dos multimilionários do mundo vive em países sem imposto sobre herança, aplicado ao dinheiro que dão aos filhos.

Juntamente com o Institute for Policy Studies, Patriotic Millionaires e Fight Inequality Alliance, a Oxfam usou dados da Wealth-X e da Forbes para calcular que um imposto sobre o património de 2% sobre os milionários do mundo, 3% sobre aqueles com mais de 50 milhões de dólares e 5% sobre os multimilionários arrecadaria 1,7 trilião de dólares por ano.
Isso seria suficiente para colocar 2 bilhões de pessoas acima da linha de pobreza do Banco Mundial, que é de 6,85 dólares por dia.

Foto da capa: Sala de aulas numa escola nos arredores de Sana’a, Iémen, 24 de janeiro de 2023. Foto EPA/YAHYA ARHAB

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