A Caritas Antoniana e outras associações, através de um donativo de 20.000 euros, possibilitaram a compra de 800 arados, entregues aos agricultores do Chade num projeto de Segurança Alimentar liderado pelo Pe. Franco Martellozzo.
O Chade é um vasto país atravessado pelo Sahel, uma das áreas mais secas do mundo; o deserto do Saara, que fica situado a norte, avançou 200 quilômetros em dez anos, causando fomes recorrentes. As chuvas são cada vez mais escassas, devido às mudanças climáticas, e a agricultura, principal fonte de subsistência, está na ruína.
A situação política também é difícil: uma longa guerra civil, muitos anos de guerrilhas e golpes de estado que levaram Idriss Déby e os militares ao poder, adiando o sonho da democracia. O resultado é a pobreza da população, o analfabetismo, a marginalização das mulheres e o acesso quase inexistente aos cuidados de saúde. 127 crianças em cada mil morrem nos primeiros anos de vida e a esperança média de vida ronda os 50 anos.
Franco Martellozzo, padre jesuíta, em 1994, começou a trabalhar no Vicariado apostólico de Mongo, capital da região de Guerà, no centro-leste do país. Antes disso, trabalhava no sul do país numa área com forte presença cristã, enquanto agora se encontra numa região onde 97% da população professa o islão, as igrejas são queimadas e há ódio religioso.
Com paciência, foi ao encontro dos líderes islâmicos e tentou uni-los à volta de um problema comum: como conseguir segurança alimentar numa terra de fome, escapando aos usurários que por um saco de milho, em tempos de vacas magras, pedem cinco sacos de milho depois da colheita, uma prática que reduz os agricultores a escravos. De comum acordo com as lideranças comunitárias, criou o Banco de Cereais, que hoje está presente em todas as aldeias. O Banco pede apenas 10% de grãos a mais em troca de um saco de milho. É uma ideia fantástica que, ao salvar os agricultores da extorsão, também promove a paz entre as várias religiões. “Não, o padre não vem para nos converter”.
Neste caminho desafiante e difícil, o Padre Franco é auxiliado por duas associações da região de Pádua, Itália, a Fraternidade Missionária de Cadoneghe e a Mano Amica di Camposampiero. Foram estas duas associações que pediram ajuda à Caritas Antoniana.

E chegamos, finalmente, aos arados, semelhantes aos dos nossos avós, na primeira metade do século passado. Na verdade, tudo é fruto de uma excelente iniciativa, mas só “no papel”, do governo do Chade, que colocou 500 arados mecanizados à disposição dos pequenos agricultores. O problema é que estes avariam ou ficam sem combustível ou, pior ainda, quando lavram muito profundo danificam o solo. Para piorar a situação, nos últimos anos, a Boko Haram, uma das mais cruéis organizações terroristas de origem islâmica, instalou-se nas ilhas e nas margens do Lago Chade, aumentando os conflitos sociais em todo o País.
Para combater o cocktail explosivo de fanatismo, pobreza e intervenções estrangeiras interesseiras, a Igreja de Mongo criou uma série de atividades para ajudar as pessoas a resolverem em conjunto os seus problemas, superando as diferenças religiosas e étnicas. O projeto insere-se neste quadro e torna-se uma importante peça no mosaico da paz. Os arados coloridos da foto, são armas contra a pobreza e o conflito. São sementes de liberdade espalhadas na boa terra.
Foto da capa: Os 800 arados, entregues pela Caritas Antonianana aos agricultores do Chade foram fabricados pelos artesão locais.
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