Das antigas procissões que se realizavam em Lisboa, a chamada Procissão do Ferrolho era uma das mais impressionantes.
Tem origem num voto feito, em 1599, pelos Vereadores da Câmara para que Nossa Senhora da Penha protegesse Lisboa da peste que ameaçava a cidade. Nessa altura já os governantes do reino, por parte de D. Filipe III, tinham fugido da cidade. O Presidente do Senado e demais Vereadores, procurando prevenir o mal, a 28 de janeiro de 1599, fizeram o voto perpétuo de fazer uma procissão que saía da Real Casa de Santo António até à ermida de Nossa Senhora da Penha de França.
Depois de autorizada pelo rei, que de Madrid despachou favoravelmente o pedido, a 5 de agosto de 1599, dia de Nossa Senhora das Neves, fez-se a primeira procissão. Saía de Santo António da Sé, à meia-noite, por causa do calor. Todos os penitentes, incluindo o Presidente do Senado, Vereadores, Oficiais da Mesa, assim como muitos frades e cidadãos participavam descalços com as suas varas nas mãos e círios na outra. O andor de Santo António era transportado pelos Meninos do Coro da Sé.
Ficou conhecida como Procissão do Ferrolho porque o rapazio que em grande número acompanhava o cortejo, ia correndo o ferrolho das portas que encontrava, fazendo grande farra na procissão que se prolongava madrugada dentro. Esta chegava à Penha de França já de manhã, terminando com a celebração de uma missa.
A Câmara dava almoço aos devotos mais importantes, que incluía fatias de presunto de Lamego, pão de Meleças e vinho do Lavradio. Por sua vez, a imagem de Santo António voltava para a sua igreja dentro de uma canastra, às costas de um moço, costume substituído depois pelo transporte da imagem no interior de uma sege.
A procissão do Ferrolho realizou-se pela última vez, em 1832. Mais tarde, a Irmandade da Senhora da Penha tentou restabelece-la, mas os Vereadores pediram a comutação do voto por uma missa cantada na igreja da Penha, substituição concedida pelo Cardeal Patriarca, a 18 de julho de 1857.
Foto da capa: Registo de Nossa Senhora da Penha de França – O Ex.mo. Sr. Cardeal Patriarca concede 100 dias de Indulgência a quem diante desta Imagem rezar uma Salve Rainha.
Século XIX, Museu de Lisboa (MC.GRA.1835.135).