A poesia em busca do mistério

A poesia busca, nas suas poucas palavras, ensinar a atenção ao presente, ao mundo e ao quotidiano tal como estes se nos apresentam, antes ainda de os avaliarmos, julgarmos ou definirmos. É uma abertura que procura silenciar as distrações de que nos valemos ou as notícias por onde nos dispersamos. É neste caminho que Fernando Echevarría nos convida a colocar os nossos passos. Nascido em 1929, com um percurso na filosofia e na teologia, na resistência política e no ensino da língua portuguesa, a extensa obra poética de Echevarría conta com numerosos prémios e distinções, não obstante a vida discreta do autor.

Em Via Analítica, o poeta continua o seu percurso insistente, em ritmo diário ou similar, pela língua, pelo sentido e pelas palavras que lhe permitam manter abertos os sentidos para o mistério. Numa escrita rigorosa – em que cada palavra nos surge bem medida – calma e pensante, Echevarría transita os caminhos que, na sua vida, o conduzem na sua busca crente e orante do Mistério: a língua, o estudo, o silêncio, os sentidos, a música, a reflexão.

A experiência espiritual não surge aqui como algo espontâneo ou fugaz, comum hoje a tantas propostas: resulta, sim, de um exercício persistente, quase árido, em que a repetição dos conceitos se une à mensagem que pode advir de um nevoeiro ou de um retiro, de um sossego marcado pelo compasso do relógio. O leitor que aceitar o difícil e fecundo convite à escuta e leitura de Via Analítica colocar-se-á num caminho orante de profundidade, com o desejo de “ir construindo um espaço / onde fosse possível erguer uma / inteligência que sofresse o espanto”.

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