A pobreza que enriquece

Parece uma contradição: seria lógico afirmar que só quem tiver abundantes recursos pode ajudar os que menos têm; mas, na realidade, não é isso que acontece, pois a experiência humana atesta que são os próprios pobres a auxiliar quem é ainda mais pobre. Os ricos, pelo contrário, tornam-se avarentos e gananciosos, ao ponto de não se darem conta do pobre da porta ao lado, como ilustra a parábola do pobre Lázaro (Lc 16, 19-31).

No dia 13 deste mês de novembro, celebra-se o VI Dia Mundial dos Pobres: uma iniciativa firmemente querida pelo Papa Francisco, que quer recordar à Igreja e a todo o mundo o dever de manter o nosso olhar atento aos irmãos que passam necessidade para sermos misericordiosos e solidários como Deus o é. O lema que o Papa escolheu para este ano é um convite a olhar para o exemplo de Cristo que “se fez pobre por nós” (2 Cor 8, 9).

A situação política e social que o mundo atravessa é ainda mais dolorosa e angustiante, devido à guerra na Ucrânia e às consequências que está a provocar em todo mundo. E quem paga os custos são sempre os mais pobres e indefesos: “Quantos pobres gera a insensatez da guerra!”.

O Papa Francisco, a exemplo do grande padre e doutor da Igreja, São João Crisóstomo, convida-nos a descobrir em Cristo aquela “pobreza libertadora” capaz de nos libertar de todas as formas de injustiça e de desumanidade.

Encontrar os pobres permite acabar com tantas ansiedades e medos inconsistentes, para atracar àquilo que verdadeiramente importa na vida e que ninguém nos pode roubar: o amor verdadeiro e gratuito. Na realidade, os pobres, antes de ser objeto da nossa esmola, são sujeitos que ajudam a libertar-nos das armadilhas da inquietação e da superficialidade.

Eis o paradoxo da vida de fé: a pobreza de Cristo torna-nos ricos. Diz ainda o Papa:

Se quisermos que a vida vença a morte e que a dignidade seja resgatada da injustiça, o caminho a seguir é o d’Ele: é seguir a pobreza de Jesus Cristo, partilhando a vida por amor, repartindo o pão da própria existência com os irmãos e irmãs, a começar pelos últimos, por aqueles que carecem do necessário, para que se crie a igualdade, os pobres sejam libertos da miséria e os ricos da vaidade, ambos sem esperança.

A nossa revista associa-se ao convite do Papa Francisco, reconhecendo que esta mesma mensagem constituiu a característica da vida e da pregação de Santo António, amigo dos pobres e defensor dos direitos humanos.

Foto da capa: Irmã Rita distribuindo apoio da ACN (Aid to the Church in Need) às famílias afetadas pela exploração e pobreza em Karm Al Zaytoun, Síria. Foto Maria Lozano, AIS (Ajuda à Igreja que Sofre).

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