Durante os meses de abril e maio, a Economia de Francisco – Portugal (EdF – PT) esteve a debater a pobreza e a exclusão social em Portugal.
Tudo começou num desafio da Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal (EAPN), na pessoa do Padre Jardim Moreira, que consistia em participar e ajudar a organizar o seminário que a Rede organiza anualmente e que aconteceria a 12 de maio de 2021.
A resposta foi positiva, embora os jovens da EdF – PT tenham feito, por sua vez, um desafio à EAPN: o de fazer um workshop a que os jovens da EdF – PT pudessem assistir de modo a se capacitarem para participarem no seminário da EAPN.
Tendo a EAPN aceite, a EdF – PT montou uma task-force, que tive a honra de liderar, para organizar e participar nos dois eventos e trabalhar em conjunto com a EAPN. Abrimos inscrições para o workshop, publicamente, especialmente direcionadas a jovens. No entanto, decidimos convidar pessoas que passam ou passaram pela condição de pobreza e pessoas que trabalham no setor social, ligadas a projetos relacionados com educação e reinserção social, que pudessem enriquecer a discussão com a sua opinião e relatos do que acontece no seu dia-a-dia.
O workshop realizou-se a 19 de abril. O modelo que decidimos seguir foi o de começar com uma exposição da EAPN sobre o fenómeno da pobreza e a exclusão social em Portugal, com estatísticas, mas também com ensinamentos práticos que a experiência deu aos seus membros sobre a origem e perpetuação deste fenómeno no nosso país. De seguida, dividimos os cerca de 50 participantes em 5 grupos (mais uma vez, com uma mistura de participantes e participantes-convidados) para discutir o que nos tinha acabado de ser apresentado.
Entretanto, fomos organizando o seminário de 12 de maio com a EAPN, onde garantimos a presença do Prof. Dr. Luigino Bruni (Univ. LUMSA de Roma), coordenador científico do Encontro de Assis da EOF e do Prof. Dr. Carlos Farinha Rodrigues (ISEG), que faz parte da comissão criadora da estratégia nacional de combate à pobreza. Adicionalmente, a EdF – PT teve uma participação concreta em dois momentos deste seminário. Em primeiro lugar, fazendo parte da mesa redonda que se seguiu às intervenções dos dois convidados já referidos, através da Isabel Geraldes Barba (estudante da licenciatura em Economia da Nova SBE). Na mesa redonda intervieram também a Susete Vaz Pedro (mentora na Teach for Portugal) e o Duarte Fonseca (diretor executivo da APAC Portugal), que já tinham participado no workshop anterior. Finalmente, a Rita Sacramento Monteiro (membro da equipa de coordenação da EdF – PT) fez o encerramento e balanço da sessão.
Estes dois encontros deram muitos frutos, seja pelo conhecimento que disseminaram, seja pelas inquietações que criaram ou pelas propostas que surgiram. Pessoalmente, gostava de destacar alguns ensinamentos e inquietações que me marcaram:
17,2% da população portuguesa estava em risco de pobreza em 2018 (Inquérito ICOR, INE).
Os três D’s da pobreza: Divórcio, Desemprego e Doença são as três grandes causas da pobreza em Portugal (A Pobreza em Portugal: Trajetos e Quotidianos, FFMS).
Ter trabalho não é sinónimo de saída desta situação. Um terço dos pobres estão empregados (Ibidem).
Sair da pobreza é um processo difícil e longo, mas começa na parte psicológica: a pessoa (independentemente da idade) tem de acreditar em si, não se conformar, ter forças para lutar e ter uma rede de suporte que a faça acreditar.
É muito importante lutar contra o estigma e preconceito face a quem está em situação de pobreza (ex.: uma sensação de que nada vai mudar na vida dessa pessoa), que também origina auto-preconceito e vergonha.
A Educação é a grande arma para combater a pobreza, mas será que temos um sistema que consegue potenciar cada criança ao máximo das suas capacidades?
O setor social está pouco profissionalizado e as organizações podiam trabalham mais em conjunto. É importante combater a ideia de que trabalhar no setor social deve ser de maneira quase gratuita, para que o setor possa atrair talento que permita fazer avaliações de impacto e mostrar esse impacto à sociedade e a potenciais doadores.
Embalados por esta “onda” da Economia de Francisco e conscientes de que a nossa missão só agora começou, estamos a desenvolver contactos com participantes destes dois eventos para definir os próximos passos.
Finalmente, gostava de referir a nossa motivação e entusiasmo ao ver que paralelamente à nossa iniciativa, a sociedade civil discutiu estes mesmos problemas noutros fóruns. O exemplo mais gritante é o lançamento do estudo A Pobreza em Portugal: Trajetos e Quotidianos, pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, em abril deste ano.
Mais do que soluções e propostas, penso que nos inquietámos a nós e aos outros com um problema real e concreto e obtivemos informações muito práticas sobre a forma como se mantém o ciclo vicioso da pobreza em Portugal. Esse “bichinho”, essa vontade de provocar, mas também conhecer e agir, que está dentro de nós, só cresceu e é ele que nos faz querer materializar o nosso objetivo: trazer o Encontro de Assis para a nossa vida quotidiana, para o nosso país e mudar o mundo à nossa volta. Se todos fizermos isto, ter uma Economia à imagem de Francisco de Assis não só é provável, como possível.

Manuel Trigueiros Cunha é gerente de Projetos com experiência em Planeamento Estratégico, Desenvolvimento de Negócios e FP&A. Trabalhador e motivado, viveu experiências internacionais que lhe alargaram os horizontes, preparando-o para viver em diferentes lugares e entre diferentes culturas.
Ligações que pode visitar:
A Economia de Francisco – Portugal (EdF – PT)
https://economiadefrancisco.org/
Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal (EAPN)
https://www.eapn.pt/
Seminário de 12 de maio com a EAPN, com a presença do Prof. Dr. Luigino Bruni (Univ. LUMSA de Roma), coordenador científico do Encontro de Assis da EOF e do Prof. Dr. Carlos Farinha Rodrigues (ISEG)
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