A oração aromática do incenso

A Palavra de Deus

Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes,
quando chegaram a Jerusalém uns Magos, vindos do Oriente.
“Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer?
Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O”.
[…]
Ouvido o rei, puseram-se a caminho.
E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente
e parou sobre o lugar onde estava o Menino.
Ao ver a estrela, sentiram grande alegria.
Entraram na casa, viram Maria, sua mãe,
e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O.
Depois, abrindo os seus tesouros,
ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra.
E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes,
regressaram à sua terra por outro caminho.

Mt 1, 1-12

A palavra de Santo António

Ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra.
Por estes três objetos é declarado em Cristo o poder régio, a majestade divina e a mortalidade humana.

A árvore do incenso é enorme e frondosa, de casca finíssima,
derrama uma resina aromática como a da amendoeira. 

O incenso vem de duas palavras gregas: thus, “bater” e théos, “deus”, ao qual se queima em sacrificio. 

Altera-se, porém, com a mistura de goma.
O incenso posto no fogo, arde, a resina fumega, a goma liquefaz-se.
A árvore do incenso é a oração devota, enorme pela contemplação, frondosa pela caridade fraterna, suplica tanto pelo amigo como pelo inimigo.

De casca finíssima pela benignidade exterior, derrama a seiva aromática das lágrimas,
cujo perfume se eleva na presença de Deus. 

Esta seiva é a refeição dos pecadores, tal como o leite da amêndoa é a refeição dos enfermos.
O orante bate no peito e a sua devoção sobe até Deus.
Mas, infelizmente, a oração devota, hoje, corrompe-se com a mistura adulterada, da resina da vanglória, como sucede nos hipócritas, e com a goma da cobiça.

A verdadeira devoção arde no fogo do amor divino,
fumega, porém, com a vaidade corrupta e liquefaz-se com a cobiça.

Epifania do Senhor

Aprofundemos

Para Santo António, os dons dos Magos manifestam oferta e adoração. A oferta a Jesus do que eles têm de mais precioso e, acima de tudo, a veneração pela sua humanidade, a adoração pela sua divindade e a oração que sobe a Deus de um coração unido a Ele em contemplação, desce sobre os irmãos, generosa e benevolente, tanto para os amigos como pelos inimigos, e espalha-se em lágrimas de um aroma que cheira bem diante de Deus.

É bonito ouvir com que palavras o Santo manifesta a intensidade da oração humilde e devota, de quem bate no peito e reconhece o seu pecado, como a do publicano da parábola evangélica (Lc 18.13); “a sua devoção sobe até Deus”. “Na verdade − diz São Francisco de Sales − a devoção, nada mais é do que o amor de Deus; um amor que procura, não apenas, fazer o bem, mas realizar tudo com cuidado, constância e prontidão”.

No entanto, o próprio António nos alerta contra os perigos que ameaçam as nossas ofertas e as nossas orações. Estas perdem o brilho se forem misturadas com a resina da vaidade que as reduzem a fumo ou com a goma da cobiça que lhes tira toda a sua força adesiva. Esse tipo de falsificação, menos comum no cristão simples e mais frequente nos que se ufanam da sua própria fé, faz-nos pensar no óbolo da viúva, em Lucas 21, 1-4, que, privando-se do necessário para o serviço de Deus, não procura captar a admiração, como os ricos que fazem grandes gestos quando colocam a oferta no tesouro.

A verdadeira devoção arde no fogo do amor divino, mas fumega com a vaidade corrupta e liquefaz-se com a cobiça.

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