O amor torna doces as coisas amargas
e leves as insuportáveis;
pelo contrário, o medo e a indiferença
até as coisas leves tornam insuportáveis.
Sermões, de Santo António, 7º Domingo depois do Pentecostes
Poucas palavras são tão usadas e abusadas como a palavra “amor”. Dele, pode dizer-se tudo e o seu contrário. E assim, quando falamos de “amor”, acabamos, tantas vezes, por encará-lo de uma forma genérica e abstrata.
Santo António associa o amor a duas qualidades que nos ajudam a apreciá-lo com maior precisão e força. Afirma que o amor é capaz de gerar doçura e leveza, dois “ingredientes” que facilmente captam a nossa simpatia.
Todos sentimos fascínio pela doçura e isso acontece, provavelmente, por causa das “vibrações” mais duras que experienciamos ou que nascem dentro nós. Quantas vezes chegamos ao fim do dia com o coração amargurado sem saber porquê. E isto mesmo quando conseguimos fazer tudo o que tínhamos programado, tudo correu como devia correr e as coisas “importantes” foram bem-sucedidas.
Como explicar, então, a amargura que nos invade? Talvez, tenhamos observado pouco, escutado pouco, parado pouco. Talvez, tenhamos feito muitas coisas, mas sem o cuidado de as saborear. Sim, porque a doçura é só para aqueles que sabem apreciar.
Portanto, o sonho que todos gostaríamos de ver realizado, isto é, chegar ao fim do dia com o coração cheio de alegria, pode realizar-se se baixarmos o ritmo; mas como?
Semeando olhares repousantes capazes de criar espaços de alma onde possamos morar com o outro; escutando aqueles que querem partilhar, contar, confiar; aprendendo a saborear os mil aromas da vida que nos atingem com a sua leveza: as mãos estendidas de uma criança, uma carta inesperada…
Só é possível provar a doçura prestando atenção aos “pequenos” detalhes. Só o amor é capaz de aliviar e como precisamos todos de ser aliviados.
Esta é a “magia” encantadora do Evangelho de Jesus: tudo o que tem a ver com Ele, com o Senhor, com as suas palavras e com os seus gestos, alivia e descansa.
Santo António sabia-o bem: se em nome do Evangelho nos sentimos pesados e aprisionados, então o que procuramos e vivemos não é seguramente o Evangelho, mas sim, os nossos estranhos calculismos.
O amor alivia e não obriga ninguém a fazer tudo sempre certinho. O amor dá a todos a oportunidade de recomeçar, sempre. Pelo contrário, o medo e a indiferença dão lugar à amargura e ao stress, tornando “insuportável” até aquilo que, por si só, não o seria de todo.
Deus é leve e doce: a sua graça “cura e faz-nos sentir a brisa suave da ternura de Deus Pai” (Sermões, 2º Domingo da Quaresma).
Foto da capa: A insustentável leveza do amor. Foto Giovanni Voltan, 2022.