A humildade é a mãe de todas as virtudes

António Secreto 2

A nossa alma é um terreno que precisamos de cuidar continuamente, porque é no torpor da preguiça e da abulia que crescem os espinhos penetrantes dos maus pensamentos.
Devemos lançar a semente da palavra “divina”, plantar as árvores das virtudes, produzir cores e perfumes procurando imitar o comportamento dos santos. E o esforço não nos deve atemorizar porque às sublimes alturas só se chega, pouco a pouco, passo a passo, pois ninguém se torna perfeito num instante. Deveremos ter sempre presente que a humildade é a base de toda a ascese e a mãe de todas as virtudes, pois leva o homem a conhecer-se a si mesmo e a Deus.

Dos Sermões de Santo António, Excerto do Livro António Secreto

Começo da sua missão de teólogo e pregador

A fama de António, depois da sua pregação em Forlí, espalhou-se rapidamente e o Frei Graciano, Ministro Provincial da Romanha, achou por bem encarregá-lo da formação teológica dos estudantes da Ordem dos Frades Menores. Os alunos ficaram enormemente beneficiados com tal mestre, não só pela sua sabedoria, mas, sobretudo, pelo testemunho da sua vida iluminada pela Palavra de Deus. A sua fama de teólogo e pregador cresceu e chegou aos ouvidos do próprio Papa, que pensou enviá-lo em missão para o Sul da França, nas terras onde a heresia estava a ganhar terreno. António, na sua humildade, não se achava à altura de tal missão, mas…

António pensou várias vezes na frase “correr em socorro de quem precisa”. Sem querer e, talvez sem sequer disso se aperceber, estava a preparar-se para partir. Estendeu uma mão sobre a mesa para agarrar um fólio que os seus alunos tinham acabado de transcrever:

O pregador deve vestir a couraça como um gigante. O gigante simboliza a constância, a couraça a paciência. Estas virtudes são absolutamente necessárias ao pregador, a fim de ser constante quando fala e paciente quando os cães ladram contra ele.

Pegou noutro:

O pregador não teme as adversidades futuras, despreza o medo e nem sequer recua perante a espada. Avança corajosamente e põe-se contra aqueles que cometem o mal, em defesa da justiça.

Parecia uma frase ditada de propósito para aquele momento − pensou e, sobrecarregado pelo cansaço e pelas preocupações, levantou a mão para apoiar a cabeça como se estivesse à procura de uma difícil solução para os pensamentos que o agitavam.

— Compreendo que não lhe seja fácil partir tão de repente − murmurou o conde d’Este espreitando por entre as fendas dos olhos.

António não respondeu, passou os olhos mais uma vez pelo escrito e voltou a colocá-lo sobre a mesa.

— Não seja desconfiado, tenho a certeza de que o que semeou não se perderá.

— É demasiado bondoso − respondeu António com expressão desiludida.

— Tem de acreditar em mim, António − murmurou o fidalgo que, com um pouco de esforço, recompôs a sua posição. – Conheço pessoas que o ouviram falar apenas uma vez, outras que o conheceram por poucos momentos e ainda outras que apenas ouviram falar do seu nome e isso foi o bastante para as fazer mudar de vida. Asseguro-lho, − disse o fidalgo em tom orgulhoso e, mostrando no punho fechado os três dedos, símbolo da Trindade, levou a mão ao coração − posso jurar-lho. A semente que plantou não se dispersará, crescerá e dará bons frutos. Pode ter a certeza disso. “A família mais pequena chegará a mil pessoas, a mais modesta será como uma nação poderosa”, não me lembro de quem o disse, mas foi o frei António que mo ensinou. Lembra-se?

— Isaías 60, 22 – respondeu António um pouco aliviado por aquela recordação.

Começo da sua missão de teólogo e pregador
A fama de António, depois da sua pregação em Forlí, espalhou-se rapidamente e o Frei Graciano, Ministro Provincial da Romanha, achou por bem encarregá-lo da formação teológica dos estudantes da Ordem dos Frades Menores. Os alunos ficaram enormemente beneficiados com tal mestre, não só pela sua sabedoria, mas, sobretudo, pelo testemunho da sua vida iluminada pela Palavra de Deus. A sua fama de teólogo e pregador cresceu e chegou aos ouvidos do próprio Papa, que pensou enviá-lo em missão para o Sul da França, nas terras onde a heresia estava a ganhar terreno. António, na sua humildade, não se achava à altura de tal missão, mas…
António pensou várias vezes na frase “correr em socorro de quem precisa”. Sem querer e, talvez sem sequer disso se aperceber, estava a preparar-se para partir. Estendeu uma mão sobre a mesa para agarrar um fólio que os seus alunos tinham acabado de transcrever:
O pregador deve vestir a couraça como um gigante. O gigante simboliza a constância, a couraça a paciência. Estas virtudes são absolutamente necessárias ao pregador, a fim de ser constante quando fala e paciente quando os cães ladram contra ele.
Pegou noutro:
O pregador não teme as adversidades futuras, despreza o medo e nem sequer recua perante a espada. Avança corajosamente e põe-se contra aqueles que cometem o mal, em defesa da justiça.
Parecia uma frase ditada de propósito para aquele momento − pensou e, sobrecarregado pelo cansaço e pelas preocupações, levantou a mão para apoiar a cabeça como se estivesse à procura de uma difícil solução para os pensamentos que o agitavam.

Ilustração de Giorgio Trevisan


— Compreendo que não lhe seja fácil partir tão de repente − murmurou o conde d’Este espreitando por entre as fendas dos olhos.
António não respondeu, passou os olhos mais uma vez pelo escrito e voltou a colocá-lo sobre a mesa.

— Não seja desconfiado, tenho a certeza de que o que semeou não se perderá.

— É demasiado bondoso − respondeu António com expressão desiludida.

— Tem de acreditar em mim, António − murmurou o fidalgo que, com um pouco de esforço, recompôs a sua posição. – Conheço pessoas que o ouviram falar apenas uma vez, outras que o conheceram por poucos momentos e ainda outras que apenas ouviram falar do seu nome e isso foi o bastante para as fazer mudar de vida. Asseguro-lho, − disse o fidalgo em tom orgulhoso e, mostrando no punho fechado os três dedos, símbolo da Trindade, levou a mão ao coração − posso jurar-lho. A semente que plantou não se dispersará, crescerá e dará bons frutos. Pode ter a certeza disso. “A família mais pequena chegará a mil pessoas, a mais modesta será como uma nação poderosa”, não me lembro de quem o disse, mas foi o frei António que mo ensinou. Lembra-se?

— Isaías 60, 22 – respondeu António um pouco aliviado por aquela recordação.

Imagens: Ilustrações de Giorgio Trevisan

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