A glória de Deus é a vida do homem
Invoca-me no dia da tribulação; Eu te livrarei e tu me glorificarás.
(Salmo 49)
A capa da revista apresenta a faceta positiva da tragédia de tantas pessoas atingidas pelo fogo que fustigou o nosso país, especialmente a Região Centro. É o rosto da fé e da esperança de um povo calejado pela dureza da vida, que nunca se deixou abater pelas dificuldades da vida.
A Maria da Conceição perdeu tudo no fogo, apenas escaparam algumas garrafinhas de aguardente caseira; com muita simplicidade e afabilidade, ela oferece uma ao senhor Presidente que, naturalmente, ficou comovido.
Este episódio, aparentemente banal, representa uma importante chave de leitura face à tragédia ocorrida. Diante da enchente de palavras, acusações, reivindicações e promessas, que correram depois destes factos, talvez seja oportuno olhar para a realidade com um olhar diferente: o olhar dos pobres, dos simples, dos que confiam, dos que acreditam que a vida é muito mais do que aquilo que se passa neste nosso mundo. Por isso, eles são capazes de continuar a sorrir, a esperar e a partilhar o pouco (ou o tudo) que têm.
Na Bíblia, o salmo 49 é uma expressão concreta deste “olhar simples”: se Deus nos liberta de todos os males e quer glorificar a nossa vida, para ela ser manifestação da Sua glória, então é fundamental que dos nossos lábios e do nosso coração saia uma invocação continua. Não se trata de “pedir coisas”, mas de manifestar disponibilidade interior para acolher a Lei do Senhor e pô-la em prática.
Porque o Senhor não enviou chuva e deixou que o fogo destruísse pessoas e bens?, ouvia-se dizer… Certamente a visão da tragédia podia levar a estas interrogações; porém, elas não saíam das pessoas com fé concreta e verdadeira; mas eram expressão da amargura dos que tinham pouca fé.
Se a glória de Deus é – como afirma Santo Inácio de Antioquia – a vida do homem, então é importante afirmar que Deus não se compraz em ver destruída a Sua obra (“bela e boa”). O homem, sim, é que deve fazer um exame de consciência e ver se “segue o caminho reto” na responsabilidade assumida de continuar a obra criadora de Deus. São os pobres e os humildes que ensinam os grandes e poderosos a encarar com maior respeito, sabedoria e equilíbrio a terra que nos foi confiada.