Senhor Padre, fala-se do problema dos refugiados e das pessoas que morrem ao atravessar o mar. Mas depois deixa de se falar. Será que o problema está resolvido? Ao ver as notícias tenho vontade de ajudar, mas não sei bem o que fazer. Será que temos de acolher toda a gente? Não é perigoso? Não estaremos a destruir a nossa cultura e o nosso país?
Carolina, Lisboa
Cara leitora, quantas pessoas estarão, neste momento, a fugir da sua terra? A percorrer quilómetros a pé, a navegar num barco de borracha ou a tentar passar uma barreira de arame farpado? Há períodos em que se fala muito deste tema e outros em que é esquecido, mas a vida e os problemas destas pessoas continuam. Ao vermos as notícias, ficamos com uma inquietação, um mal estar, um misto de compaixão, egoísmo, impotência, medo, revolta, coragem. Depois – longe da vista, longe do coração – esquecemos e habituamo-nos ao problema, como nos habituamos às pessoas que dormem na rua, às que não têm trabalho. Inconscientemente, arrumamos tudo no mesmo lugar, dizendo que não nos cabe a nós carregar os problemas do mundo.
Um risco real é a indiferença; construímos muros à nossa volta e deixamos que o nosso coração endureça. Os problemas do mundo comovem-nos, mas será que mudam algo na nossa vida, na nossa forma de pensar e de agir? Por detrás da indiferença esconde-se o medo, que nos bloqueia e nos entorpece a compaixão pelo outro.
Temos medo do que possa acontecer ao abordar os sem abrigo, ao ajudar o delinquente, ao falar com o toxicodependente, ao acolher a família que foge da guerra, da violência, da fome, da falta de trabalho. Vivemos numa sociedade dominada pelo medo, que nos prende e não nos deixa agir. Um medo que nos leva a construir muros e nos afasta do outro; um medo que nos torna indiferentes e fecha o nosso coração. O Papa Francisco não se cansa de apelar contra a globalização da indiferença. O futuro dos refugiados deixou de ocupar os títulos, mas nós não podemos esquecer, nem ficar indiferentes. Estas pessoas precisam da nossa oração, da nossa voz e das nossas mãos para amar, acolher e partilhar.