A ‘força’ de um abraço

Quando este texto chegar à mão dos nossos leitores, já estaremos mesmo muito próximos da Jornada Mundial da Juventude. Trata-se, sem dúvida, de uma realidade importantíssima que todos desejamos seja capaz de marcar um antes e um depois. Aliás, aqui reside um dos principais desafios a ter em conta na sua preparação e realização.

A Jornada será, certamente, um momento único pelo número de jovens que vai envolver. A fisionomia da cidade de Lisboa vai alterar-se durante esses dias e poderemos ver como a vida pulsa por todas as suas artérias. Não tenho a menor dúvida do enorme impacto que os momentos de concentração irão produzir em todos aqueles que a eles assistam presencialmente ou mesmo à distância. A esse nível vai ser uma enorme festa. Mas isto, não é o mais importante. O convívio, que vai acontecer entre jovens de todas as partes do mundo, parece-me ainda mais importante, tal como toda a atitude de acolhimento e hospitalidade que envolve tantas e tantas famílias. O que vai suceder a este nível, disso não tenho dúvidas, é ainda mais importante.

Esta experiência de encontro dos jovens entre si, dos jovens com as outras gerações e de todos com o Mistério de Deus revelado no Ressuscitado, parece-me mesmo ser um dos núcleos vitais da JMJ.

Nessa experiência descubro a possibilidade da existência de uma força transformadora que tomo como indispensável para o momento histórico que estamos a viver. E digo histórico não me referindo somente à Jornada em si, mas a todos os outros acontecimentos que continuam a marcar o nosso mundo e as nossas sociedades e que não podem ser esquecidos nem secundarizados. Julgo até que seria muito importante que eles estivessem de algum modo presentes, não para paralisar a Jornada, mas para galvanizar todos os seus participantes no compromisso com as transformações que são urgentes e necessárias introduzir nos nossos hábitos de vida e no modo como estamos a construir as nossas sociedades.

Por isso, me parece que o mais importante, ainda, é o que se segue ao evento. Aliás, o desejo de todos é que a Jornada não seja simplesmente um evento, mas possa ser o desenvolvimento de uma dinâmica na linha das transformações apontadas.

“O projeto de amor de Deus atravessa o passado, o presente e o futuro, abraça e põe em ligação as gerações”.
Foto Polarpx - stock.adobe.com

III Dia Mundial dos Avós e dos Idosos
23 de julho de 2023

É tendo como pano de fundo esse desejo, que quero destacar a mensagem do papa Francisco por ocasião do III Dia Mundial dos Avós e dos Idosos (23 de julho de 2023), na qual se destaca a importância do encontro entre estas gerações.

Neste ano, regista-se uma proximidade estupenda entre a celebração do Dia Mundial dos Avós e dos Idosos e a Jornada Mundial da Juventude; no tema de ambas, sobressai a «pressa» de Maria (cf. 1, 39) quando visita Isabel, levando-nos assim a refletir sobre a ligação entre jovens e idosos. O Senhor espera que os jovens, ao encontrar os idosos, acolham o apelo a guardar as memórias e reconheçam, graças a eles, o dom de pertencerem a uma história maior. A amizade duma pessoa idosa ajuda o jovem a não cingir a vida ao presente e a lembrar-se que nem tudo depende das suas capacidades. Por sua vez, aos mais velhos, a presença dum jovem abre à esperança de que não se perderá tudo aquilo que viveram e se vão realizar os seus sonhos. Em resumo, a visita de Maria a Isabel e a consciência de que a misericórdia do Senhor se transmite duma geração à outra mostram que não podemos avançar – nem salvar-nos – sozinhos, e que a intervenção de Deus se manifesta sempre no conjunto, na história dum povo.

Termos bem presente que fazemos parte de uma história maior, da qual todos somos chamados a ser protagonistas, parece-me ser condição importantíssima para a construção do futuro, que não pode nunca prescindir nem do passado, nem do presente. Se quisermos verdadeiramente ensaiar novas possibilidades de edificação das nossas sociedades, promovendo a justiça e a fraternidade, devemos sempre ter em conta, como se afirma na mensagem:

que o tempo deve ser vivido em plenitude, porque as realidades maiores e os sonhos mais belos não acontecem num instante, mas através dum crescimento e duma maturação: em caminho, em diálogo, no relacionamento. Ora, quem se concentra apenas no imediato, nas próprias vantagens que se hão de conseguir rápida e sofregamente, no «tudo e já», perde de vista o agir de Deus. Diversamente, o seu projeto de amor atravessa o passado, o presente e o futuro, abraça e põe em ligação as gerações. É um projeto que nos ultrapassa a nós mesmos, mas no qual cada um de nós é importante e, sobretudo, é chamado a ir mais além. Para os mais jovens, trata-se de “ir mais além” do imediato em que nos confina a realidade virtual, que muitas vezes nos desvia da atividade concreta; para os mais velhos, trata-se de não se deterem no debilitar-se das forças nem no lamento pelas ocasiões perdidas. Olhemos para a frente! Deixemo-nos plasmar pela graça de Deus, que, de geração em geração, nos liberta do imobilismo no agir e das lamúrias voltadas para o passado!

A importância deste encontro entre jovens e idosos, que também quer simbolizar a importância do encontro entre todas as gerações, fica bem destacada no fim da mensagem, quando Francisco convida todos os que se preparam para participar na Jornada a visitarem e abraçarem os avós e também aqueles idosos que estão sozinhos.

Todos guardamos na nossa memória a força de algum abraço, e não me refiro apenas, nem principalmente, ao vigor físico do mesmo, mas à sensação, posso mesmo dizer convicção, de sermos amados, queridos, sustentados. Foram também esses abraços − são esses abraços − que nos fazem perceber melhor como fazemos parte de uma história maior, aquela que Deus quer continuar a escrever connosco.

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