A foto da capa da revista deste mês pretende mostrar que, no nosso mundo, a última palavra não pertence à morte, mas à vida. Por isso, dado que onde houver esperança há vida, então a esperança é a virtude mais necessária, mormente nos momentos de maior angústia e incerteza.
Quando o Papa Francisco decidiu surpreendentemente casar, no avião que o levava para a cidade de Iquique, no Chile, o casal Paula e Carlos, todos se perguntaram o “porquê” daquele gesto. Ele respondeu: “Porque é importante celebrar e viver o sacramento do amor. Porque Deus, por assim dizer, “espelha-se” no casal e imprime neles as suas características e o carácter indelével do seu amor. O matrimónio é o ícone do amor de Deus por nós. E espero que este gesto motive outras pessoas a celebrarem o matrimónio”.
Nós sabemos que, para viver o amor, é necessário ter esperança naquele que disse: “Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos”. É a presença do Senhor na nossa vida a constituir a nossa força e a nossa confiança; na verdade, Ele é o amor e quem permanece n’Ele, permanece no amor e aceita com alegria tudo o que o amor comporta.
Papa Francisco, com este gesto, bem como com outros gestos surpreendentes aos quais nos habituou, quer mostrar-nos o essencial da nossa vida: o amor, que enche de alegria, de júbilo e de paz a nossa existência. O que é importante é acolher a Cristo, acreditar no Seu amor que renova todas as coisas e nos projeta para uma nova forma de viver e de nos relacionarmos.
O nosso mundo, nestes últimos tempos, parece passar por um défice de esperança: tragédias naturais e humanas, egoísmos entre as nações e desrespeito pela criação, levaram a uma maior desconfiança na possibilidade de os homens se entenderem e se solidarizarem na obra da justiça e da paz.
É necessário cultivar e conservar o “sonho” de uma nova criação, onde “a justiça e a paz se abraçam, onde o lobo habita com o cordeiro, onde a criança brinca na toca da víbora, onde não há dano nem destruição em todo o santo monte do Senhor” (cfr. Is 11,1ss). É o mesmo sonho que fez de Martin Luther King um herói dos direitos humanos, da não violência e do amor. Eis, nas suas palavras, o segredo: “Quando chegas a fixar o rosto de cada ser humano e, bem no fundo dele, vês o que a religião chama a «imagem de Deus», começas, não obstante tudo, a amá-lo. Não importa o que faça, lá vês a imagem de Deus. Há um elemento de bondade de que nunca te poderás livrar”.
A descoberta da “imagem” de Deus, nos homens e na criação, reavive a nossa esperança e ative o nosso amor!