“E se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo” (Lc 13, 3). Quando li esta passagem do Evangelho, tinha acabado de receber uma carta de Moçambique, deste teor:
Aqui (em Maputo) estamos com intenso mal estar: calor horrível, temperaturas elevadas sob sol escaldante. Quando chove, alaga tudo e sob trovoadas medonhas. Na Beira, onde ainda residem dois mil e quinhentos portugueses, houve um ciclone, chamado Idai, que arrasou tudo o que podia. A cidade está estragada. As pessoas ficaram sem comida, sem água, sem roupa, sem casas e sem comunicações, mais de 1000 mortes… Orai por eles e por nós, para que Deus, tenha Misericórdia de nós, e nos livre das insídias satânicas.
Fiquei cheio de dor pela desgraça caída sobre aqueles irmãos de Moçambique, mas, também, fiquei interpelado pela conclusão da carta: quais são as “insídias satânicas?”. As palavras do Evangelho, acima referidas, ajudaram-me a entender a frase, sem cair em julgamentos apressados. Sim, nós, homens e mulheres, estamos a combater, neste mundo, uma luta contra o espírito do mal, contra o tentador que quer que sejamos nós a ocupar o lugar que é próprio de Deus: o lugar do Princípio e do Fim da nossa vida. Caindo nesta tentação, o homem torna-se escravo de Satanás e dos ídolos deste mundo que, apesar do brilho com que nos seduzem, só trazem lágrimas e sangue. Daqui o pedido singelo: “Orai por nós!”.
Estamos a viver o período litúrgico que celebra o núcleo central da fé cristã: a paixão, morte e ressurreição de Cristo. É espantosa a forma que Deus, que tudo pode, escolheu para nos salvar das “insídias satânicas”: entregar o seu Filho, para Ele assumir todo o nosso pecado e pregá-lo na Cruz para o destruir. É o “mistério da fé”, que só pode ser compreendido por quem segue o caminho que Jesus percorreu: o caminho do Amor até ao fim, até ao dom da vida.
Não é só em Moçambique que acontecem situações dolorosas e inexplicáveis, também na nossa Europa, no mundo inteiro e na própria Igreja. A palavra do Senhor convida-nos a projectar sobre elas a luz do Espírito do Senhor, porque só assim poderemos permanecer no caminho da esperança e da paz.
São os pobres que nos oferecem testemunhos de misericórdia e de solidariedade, como as crianças de Moçambique que, apesar de perderem tudo, não perdem o sorriso nos olhos e a confiança em Deus e no próximo!
Feliz Páscoa da Ressurreição!