A Palavra de Deus
Quando Ele chegou aos doze anos, subiram até lá, segundo o costume da festa. Terminados esses dias, regressaram a casa e o menino ficou em Jerusalém, sem que os pais o soubessem. Pensando que Ele se encontrava na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém, à sua procura.
Lc 2, 42-52
Três dias depois, encontraram-no no templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. Todos quantos o ouviam, estavam estupefactos com a sua inteligência e as suas respostas.
Ao vê-lo, ficaram assombrados e sua mãe disse-lhe: “Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura!” Ele respondeu-lhes: “Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?”
Mas eles não compreenderam as palavras que lhes disse.
Depois desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração. E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens.
A palavra de Santo António
Voltou para Nazaré. Nazaré significa flor e designa a humildade. A humildade é uma flor, porque alia à beleza da cor a suavidade do perfume e a promessa do fruto. Tem a suavidade do bom nome. Como a flor não se corrompe, quando exala o seu perfume, assim também o humilde não se orgulha quando é elogiado pelo perfume da sua vida honesta.
“Dançarei diante do Senhor e rebaixar-me-ei; e serei vil aos seus olhos”, assim falou David. O Filho dançou na presença do Pai, enquanto era traído pelo discípulo, flagelado, amarrado à coluna, escarnecido por Herodes, coroado de espinhos, agredido com canas e socos, a cara tapada, a cabeça golpeada, a barba arrancada. Assim dançou a sabedoria de Deus e se tornou desprezível à face da terra.
Da mesma forma, a promessa do fruto vem da abundância da casa do Senhor. Quando vejo a flor espero o fruto; da mesma forma ao ver o humilde tenho esperança que será feliz nos céus.
Mas ai de mim! “O melhor de entre eles, diz Miqueias, é como um tojo, o mais justo, como uma sebe de espinhos” (Mi 7,4).
Hoje, são todos hipócritas e espinhos: hipócritas fingindo ser o que não são; espinhos que ferem os que passam, para extrair o sangue do louvor e do dinheiro. No jardim de Nazaré não há hipócritas, nem espinhos, mas lírios e violetas. Jesus voltou, pois, para Nazaré.
Aprofundemos
Numa pintura do Louvre, Jesus entre os doutores tem feições e olhos de adulto.
Santo António tem, portanto, motivos para no-Lo propor como modelo de humildade. O seu silêncio, a sua escuta, as suas perguntas e respostas aos grandes mestres da lei eram a melhor forma de mostrar que todo o conhecimento e toda a ciência não são mais que vento quando utilizados para engrandecimento próprio e desprezo dos demais. Diria até que são ofensivos para aqueles que procuram sinceramente luz para se orientarem na confusão da nossa pobre humanidade. O seu silêncio em Nazaré está, portanto, cheio de lições. Vivendo a sua humilde vida de infância com Maria e José, revela o segredo de toda a vida realmente bem sucedida.
Bem sucedida? Talvez não, de facto, poucos o entenderam especialmente entre os grandes; Ele que foi humilhado na cruz, como um canalha e que somente os pequenos, os pobres, os pecadores entenderam quanto Ele os amava. É por isso que Nazaré é a flor, a violeta perfumada que anuncia a primavera de uma vida mais verdadeira e justa, ao serviço daqueles que, ao longo das nossas estradas, nos estendem a mão, porque a sociedade os rejeita ou lhes dá apenas um pão de miséria, uma cabana sem a flor do amor. Sejamos nós também flores perfumadas para todos os exilados e os isolados, no nosso país e na nossa família.
Por vezes, uma ninharia introduz o veneno nas relações familiares e em vez de flores crescem os espinhos. Que as nossas famílias sejam, à imagem da casa de Nazaré, casas floridas.
Foto: O encontro do Menino Jesus no Templo. Óleo sobre tela de William Holman Hunt, 1860, https://commons.wikimedia.org/.