2. Santa Engrácia

Parte central do Retábulo de Santa Engrácia, da Igreja de São Pedro de Daroca, Saragoça, Espanha. Este retábulo, da autoria de Bartolomé Bermejo (cerca de 1472-1474) foi desmembrado e espalhado pelos quatro cantos do mundo. Foto: Isabella Stuart Gardner Museum, Boston, 2015 | Wikimedia Commons.

Vamos até Braga para conhecermos melhor a história de Engrácia (Encratis), ali nascida por volta de 1030, mas também venerada nas regiões espanholas de Carbajales de Alba (Zamora) e Badajoz.

O que marca a vida de Engrácia de Braga e justifica a sua santidade é o facto de esta jovem, aos 20 anos de idade, tendo feito um voto de virgindade e desejando entregar-se totalmente a Deus, se ter recusado a casar com o noivo que lhe havia sido imposto por seu pai, tal como era costume naquele tempo.

Desgostosa por sua vontade não ser respeitada, decide fugir, refugiando-se nas montanhas de Carbajales de Alba, na região de Zamora. Contudo, nem aí encontrou sossego: o noivo, sentindo-se desrespeitado e insultado, decide persegui-la. Quando a encontra decide matá-la, degolando-a. Não satisfeito, recolhe a cabeça da jovem como troféu da sua vingança e atira o corpo num lago próximo, na esperança de assim “enterrar” a sua própria vergonha. O corpo acabou por ser encontrado por frades eremitas de Santo Agostinho que dão início ao seu culto, construindo ali uma ermida.

São poucas e imprecisas as informações a respeito da identidade, origem e vida desta jovem. Os primeiros escritos que nos falam desta santa são do séc. XV-XVI. Quanto à ermida atrás referida não existem quaisquer ruínas e o mosteiro dos ditos frades já há muito tempo que foi destruído. Outros relatos referem uma outra ermida, construída perto de Badajoz para veneração da sua cabeça. Certa é a trasladação da cabeça de Engrácia para a Catedral de Badajoz, passando a ter veneração oficial a partir de 1580 (mais tarde foi trasladada para a Catedral de Beja, onde acabou por desaparecer, devido a um incêndio).

É problemática a devoção e memória reconstruída sobre esta figura, muitas vezes confundida com Engrácia de Saragoça e Engrácia de Segóvia

A jovem Engrácia de Braga destaca-se pela ousadia, pelo desassombro e pela fidelidade a um projeto de vida cristã plenamente assumido, mesmo a contra corrente das convenções sócio culturais longamente enraizadas. Não será esta uma das mais belas facetas da “santidade juvenil” que a vida de Engrácia tão bem ilustra?

Foto da capa: Parte central do Retábulo de Santa Engrácia, da Igreja de São Pedro de Daroca, Saragoça, Espanha. Este retábulo, da autoria de Bartolomé Bermejo (cerca de 1472-1474) foi desmembrado e espalhado pelos quatro cantos do mundo. Foto: Isabella Stuart Gardner Museum, Boston, 2015 | Wikimedia Commons.

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